sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pela solidariedade de classe em defesa do professor Marcléo


O professor Marcléo Rosséli é conhecido por sua longa e enérgica trajetória de lutas em prol das causas populares e do seu ativismo em defesa de EDUCAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICAS, DEMOCRATICOS E DE QUALIDADE. O companheiro é membro fundador da Conlutas- DFE. Por empregar uma pedagogia progressista nas escolas públicas que trabalhou, ter denunciado irregularidades e abusos de autoridade das gestões da administração pública onde passou, por ter atuado enquanto oposição às burocracias sindicais Cutistas, o companheiro vem sofrendo sistematicamente perseguições políticas, assédio moral e estigmatização social, sem contar as calúnias, salários cortados, tranferencias arbitrarias de locais de trabalho, rebaixamento em suas notas de estágio probatório, processos administrativos de demissão sem direito a defesa, adoecimento de sua saúde e precariedades financeiras, entre outros flagrantes abusos.

Aprovado em concurso público para a Fundação Educacional do DF na década de 90 foi injustamente demitido no período de seu estágio probatório através de um processo administrativo recheado de vícios e ilegalidades durante a gestão de Roriz e Eurides Brito (a mesma que foi filmada no escândalo do mensalão do DEM-DF, conhecida pelo seu autoritarismo e abuso enquanto Secretaria de Educação). Durante a gestão de Cristovam Buarque foi formada uma comissão revisora do seu processo contando com membros do Simpro-DF. Porém, por fazer parte do bloco de oposição ao sindicalismo pelego, foram retiradas as questões mais graves e absurdas na tentativa de dar legalidade e legitimidade ao processo, mantendo a maior penalidade: demissão do serviço público ao professor. Sendo de origem humilde e sem maiores recursos ou apoios, o companheiro ainda não conseguiu sua reintegração e reabilitação.

Em março de 2004, o companheiro Marcléo prestou novo concurso para docente em Valparaíso de Goiás. Por manter sua postura de militante, ter liderando a mais longas greves da categoria, ter lutado juntamente com à comunidade pela retirada de um lixão da cidade, estar a frente da campanha vitoriosa pelo não fechamento do EJA(Educação de Jovens e Adultos), entre outras diversas ações, foi novamente perseguido pelo governo e pelos burocratas do sindicato local, ligados a CUT e ao PT.

A partir da urgente necessidade de defesa do companheiro foi formada, em 2010, a Comissão de Combate ao Assédio moral e à Criminalização dos Movimentos Sociais e seus Militantes DF/Entorno, composta por sindicatos, organizações do movimento estudantil e popular e independentes (tais como SINDÁGUA-DF, SINDICAL, UNIPA, RECC E SINDMETRÔ- GESTÃO 2008/2010). Devido a tudo isso faz-se necessário que a classe trabalhadora reaja aos ataques da burguesia e da burocracia sindical eleitoreira, na solidariedade àqueles perseguidos políticos. Devemos partir do justo e valoroso principio de que: mexer com um trabalhador é mexer com toda nossa classe!


Reagir aos ataques da burguesia, do Estado e das burocracias sindicais!
Contra atacar em defesa dos trabalhadores!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Romper com o sindicalismo de Estado, retomar a luta anti-governista de massas

Rede Estudantil Classista e Combativa – RECC Brasil

O ano de 2010 foi uma data chave no processo de reorganização do movimento sindical-popular brasileiro iniciado com a formação da Conlutas. O movimento de crítica e ruptura com o governismo da CUT a partir de Luiziânia em 2004, e que se firmou em 2006 durante o CONAT em Sumaré, passou por diversas etapas. Cabe aos estudantes comprometidos com a luta de classes fazer uma análise das linhas gerais desse processo e demarcarem sua posição.

Durante esse período de seis anos o campo anti-governista do sindicalismo brasileiro expôs suas próprias contradições e limites. O setor majoritário da Conlutas (o PSTU), seguido de seus satélites, operou sistematicamente um verdadeiro deslocamento das posições anti-governistas iniciais para posições abertamente semi-governistas. Contudo, a possibilidade de traição ou destruição da organização e do programa de massas da Conlutas já estava indicada desde sua fundação e encontrou sua trágica conclusão durante o último CONCLAT em Santos.

De Luiziânia (2004) à Santos (2010) o que vimos foi que a aplicação da linha de massas do setor majoritário carregava desde o início o germe da destruição do projeto de uma Central de Classe. O oportunismo irresponsável do PSTU acabou com as alternativas já minimamente gestadas de uma verdadeira oposição de massas ao governo de Frente Popular do PT. O que as "unidades de ação" com os governistas demonstravam em nível embrionário durante o processo de reoganização, o Congresso de unificação com a Intersindical e o CONCLAT explicitaram em nível terminal. A adoção progressiva de táticas para-governistas em clara contradição com a estratégia anti-governista, foi também o abandono progressivo do próprio anti-governismo como guia estratégico do movimento de massas, provocando uma política de desorganização no setor anti-governista que o fragilizou.

Os sindicatos e agrupamentos classistas conlutistas encontraram dentro da própria Central os inimigos que buscavam combater fora dela. O eleitoralismo, cupulismo e legalismo do setor majoritário foram as barreiras que encontram o minoritário setor classista e combativo da Central para a aplicação concreta do programa anti-governista.

Durante o CONCLAT ficou evidentemente exposto o oportunismo dos setores ligados ao PSTU e ao PSOL, assim como o confusionismo de seus satélites. A capitulação da Conlutas ao semi-governismo e sua auto-destruição encontram um marco organizativo na oficialização da atual CSP-Conlutas. Diante do atual quadro do movimento de massas brasileiro cabe uma ação concreta para a retomada da luta de massas anti-governista numa conjuntura de segunda fase do governo de Frente Popular.

Assim, as Plenárias de movimentos de oposição de base realizadas durante o CONCLAT, como alternativa ao processo de liquidação do programa e da estratégia anti-governista de massas, apontaram os primeiros passos para um sério e necessário reagrupamento dos sindicatos, oposições estudantis e populares para a luta. Ciente da importância estratégica que ocupa uma Central de Classe para a luta do proletariado, as Plenárias de base encaminharam encontros regionais pós-CONCLAT com o objetivo de encaminhar a luta para além do governismo da CUT e do para-governismo da CSP-Conlutas. Depois dos encontros regionais e de um encontro nacional em 16 e 17 de outubro foi deliberada a criação do Fórum Nacional de Oposições.

A Rede Estudantil Classista e Combativa participou, inclusive convocando a realização das Plenárias ainda em Santos, e continuou ativa nos encontros regionais e enviando delegados para a Plenária Nacional. Os posicionamentos aí tirados apontam para o correto caminho do questionamento das ligações dependentes que os movimentos de massa, estudantil, popular ou sindical, possuem com o Estado e mesmo com o eleitoralismo. Sua conseqüência é a burocratização e o completo distanciamento das bases de decidirem assim como de se enfrentarem contra os ataques partindo dos capitalistas. Romper com o modelo de organização sindical fragmentada e tutelada pelo Estado via Carta Sindical, assim como ligar nesta mesma organização estudantes e trabalhadores, este deverá ser o embrião para consolidar e ampliar a ação combativa e classista que permitirá nossa classe sair da defensiva que se encontra, para uma contra-ofensiva na reivindicação de seus direitos.

O Fórum coloca como tarefa central retomar as lutas da classe a partir dos locais de trabalho e a criação de oposições interprofissionais, rompendo a fragmentação da classe e unindo os trabalhadores a partir da base através da luta direta por melhores salários, menor jornada de trabalho e melhores condições de trabalho, estudo e moradia.

Nesse sentido, a RECC que sempre pautou sua luta pelo anti-governismo combativo saúda a criação do Fórum e adere a ele na pretensão de construção de uma Central de Classe para o proletariado brasileiro.


Avante os que lutam!

Nem um passo atrás contra o Estado, a burguesia e as burocracias sindicais!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Boletim de Mobilização da Federação SUD Estudantes (França)


Repassamos aqui boletim da Federação de Sindicatos de Estudantes da França, ligada a central de classe Solidaires. A burguesia européia e o Estado estão tentando barrar possíveis "cenários gregos" no restante do continente europeu. As mobilizações em torno da previdência social tem contado com apoio massivo dos estudantes franceses e assim como na Argentina, em setembro, a aliança proletária-estudantil se faz presente na luta.

Boletim de Mobilização da Federação SUD Estudantes - Solidários (Federação de Sindicatos de Estudantes)

http://www.sud-etudiant.org/

ESTUDANTES: a mobilização se estende e se amplia.

As assembleias gerais acontecem em muitas das universidades: elas exigem a retirada do projeto de lei, votam a greve, de acordo com os piquetes e as ocupações dos locais, como em Caen, Lille 3, Montpellier, Rennes 2, Pau, Poitiers, Paris 1, Paris 4, Paris 8-Saint- Denis, Paris-10-Nanterre, Paris 13-Villetaneuse. Os estudantes se mobilizam ainda nas UT, les IRTS, les IUFM, les Beaux-Arts de Rennes, les IEP de Lyon, Rennes et Paris, et les ENS de Lyon et Paris.

A greve interprofissional e os bloqueios econômicos.

Portanto, os estudantes se jogam em manifestações com os secundaristas massivamente mobilizados. As ações comuns de bloqueio econômico são organizados com assalariados em greve permanente, como a Tours, Rennes, Lorient e na Île-de-France : bloqueio da vias de comunicação (rodovias, estações e portos), bloqueio de zonas industriais, fechamento de centros comerciais, de depositos petroliferos, de garagens de ônibus, ação de pedágios gratuitos... Esta convergÊncia das lutas e das ligações que são assim fontes que a mobilização não falhará com as férias escolares. Estudantes e secundaristas continuarão a lutar massivamente ao lado dos ferroviários, dos rodoviários, dos trabalhadores das refinarias.

Se organizar contra a repressão policial e administrativa

Face a esta mobilização, a repressão policial e o fechamento administrativo das universidades, que se sustentam sobre a retorica anti-p2, demonstra o medo do governo face a uma greve ampliada. Contra esta criminalização do movimento social, são organizadas as manifestações contra a violência policial, os fundos de solidariedade e as comissões de luta contra a repressão.

Coordenar Democraticamente a Luta

Uma coordenação nacional estudantil será realizada em Mans nos dia 23 e 24 de outubro (sábado e domingo); A coordenação das lutas deve continuar e se organizar de maneira democrática, pra que a condução da greve siga as vontades de todos aqueles que se mobilizaram.

Faculdades mobilizadas;

  • Aix : a barragens a partir de 25.

  • Bordeaux II : Barragens.

  • Bordeaux III : 1200 pessoas em AG.

  • Caen : 600estudante em AG, greves com piquete nas semanas anteriores.

  • Chambéry : Manifestação de estudantes e secundaristas com 600 pessoas no dia 21.

  • Lorient : Manifestação de estudantes e secundaristas com 1200 pessoas no dia 21.

  • Lille III : Greve com piquete na semana passada

  • Lyon II : greve com piquete, fechamento administrativo da presidência

  • Montpellier II : 1000 estudantes em AG, grève com piquetes

  • Montpellier III : 1000 estudantes em AG, grève com piquetes votados, fechamento administrativo da presidência

  • Nancy : 600 pessoas em AG

  • Paris 1 : 1000 pessoas em AG, greve com piquete para o dia 26

  • Paris 3 : 300 pessoas emAG, votaram pela greve

  • Paris 4 : 200 pessoas em AG, greve com piquete nos dias de manifestação

  • Paris 7 : 200 pessoas em AG

  • Paris 8-Saint-Denis : 300 pessoas em AG, grève com piquetes votado para os dias de manifestação

  • Paris 10-Nanterre : Grève com piquetes.

  • Paris 13-Villetaneuse : 300 pessoas em AG, grève com piquetes para a segunda, 25.

  • Pau : Grève com piquetes

  • Perpignan : 300 pessoas en AG.

  • Poitiers : 700 estudantes em AG. Grève com piquetes

  • Rennes 1 : 300 estudantes em AG

  • Rennes 2 : vários milhares de estudante em AG, greve com piquete e ocupação da universidade.

  • Reims : 300 estudantes em AG

  • Strasbourg : Manifestação de estudante e secundaristas de 500 pessoas dia 21 e22/10

  • Tours : 400 pessoas AG.


Nota de solidariedade à luta dos estudantes argentinos


"O segredo da vitória é o povo."
Marighella

Contra a intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres. Não se deixar esmagar, não se deixar cooptar. Lutar Sempre!
Florestan Fernandes

Nas últimas semanas os estudantes argentinos têm dado um exemplo de organização, combatividade e classismo ao conjunto dos estudantes da América Latina ao defenderem a educação pública dos ataques do governo Macri e Kirchner. Essa capacidade política dos secundaristas e universitários de Buenos Aires se manifesta através da ação direta com as ocupações e tomadas de escolas e faculdades sob controle estudantil, que até o momento são 30. Essa capacidade de mobilização que dura mais de um mês está sendo constantemente sabotada através da criminalização das ocupações pelo governo e a mídia burguesa. Essa criminalização da ação direta estudantil objetiva criar uma base legal para potencializar a repressão do aparelho policial de Estado e desarticular a luta em seu elo principal que são as ocupações, deixando a combativa juventude portenha sem um instrumento de pressão política sobre o governo.

O auge das mobilizações ocorreu no ultimo dia 16 de Setembro, quando ocorreu uma grande mobilização em homenagem aos desaparecidos na "Noite do Lápis", nome da operação militar que ocorreu a exatos 34 anos durante o periodo da ditadura Civil-Militar Argentina. Essa operação torturou e matou 6 estudantes secundaristas, deixando outros tantos feridos, que lutavam em defesa do Passe-Livre estudantil.Estima-se que a manifestação do ultimo dia 16 contou com cerca de 40 mil manifestantes entre estudantes e trabalhadores, na aliança operária-estudantil, nas ruas de Buenas Aires. Lutando em defesa da Educação Publica contra o Governo Kirshiner e prefeito Macri.

Nós, estudantes secundaristas e universitários brasileiros, pertencentes a coletivos de curso, oposições de base e grêmios agrupados nacionalmente na Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC), nos solidarizamos com a luta da juventude argentina na defesa de seus direitos. Nesse momento na Argentina está se mostrando na luta de classes a vitalidade política e a potência popular das organizações de base, da aliança operária-estudantil nas assembléias unitárias com os trabalhadores da Kraft-Terrabusi, Roca, Paraná Metal e Felfort, e o poder de fogo da ação direta. Na velocidade que está se dando a luta e o acúmulo de forças que se desenha não tardará para surgirem dos setores pelegos saídas burocráticas e conciliadoras. Enviamos desde o Brasil nossas saudações classistas aos estudantes argentinos na torcida para que não capitulem aos meios legalistas e corporativos que tanto retrocedem a luta. A vitória dos estudantes da Argentina será uma vitória de todos os estudantes latinoamericanos. A melhor maneira de se solidarizar com a juventude portenha nesse momento é levar para as bases do movimento estudantil brasileiro o exemplo de organização e luta dos camaradas argentinos. Desde já dizemos, nenhum passo atrás, AVANTE!

Brasil, 27 de setembro de 2010.

Rede Estudantil Classista e Combativa - RECC

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Análise de Conjuntura como Instrumento*


O presente texto é uma tradução livre de um capítulo do livro Fundamentos de Formacion Politica – Análisis de Coyuntura (2º edição) de Helio Gallardo. Esta é uma iniciativa da militância da RECC no Ceará diante do descaso com que o ME cearence vem tratando a vital atividade de analizar e debater a conjuntura. Viemos de um congresso de estudantes da UFC onde não ouve uma mesa de conjuntura, mesmo depois da reivindicação desta pelos setores de oposição, tamanho é o descaso com que o tema vem sendo tratado aqui. Esperamos que essa modesta contribuição possa ajudar qualitativamente o trabalho militante nas bases e agradecemos a sua divulgação.




A Análise de Conjuntura como Instrumento*

1. Premissas, objeto, finalidade e organização da análise de conjuntura

Premissas da análise de conjuntura

Segundo temos exposto e discutido, a análise de conjuntura repousa sobre as seguintes premissas:

I

a) a realidade histórico-social é complexa, mas pode ser conhecida;

b) a complexidade da realidade histórico-social inclui seu caráter conflitivo;

c) a conflitividade do histórico-social supõe mudança e desenvolvimento;

d) o conhecimento do histórico-social é necessário para seu desenvolvimento e mudança e;

e) a inserção política do conhecimento, o torna uma força material.

II

a) o caráter conflitual, contraditório, do histórico-social se concentra na luta de classes;

b) para toda sociedade de classes, o espaço político, instancia de realização do conflito antagônico de classes, é um espaço de luta e conflito;

c) a luta e conflito políticos devem ser entendidos sob a forma de pontos de contato (integração, aliança, combate) ou articulação de forças sociais na cena política em relação a estrutura política;

d) a organização capitalista da vida, por não permitir a realização-apropriação do ser humano (enquanto torna impossível uma existência humana), exige sua transformação e a materialização de um projeto alternativo de existência, e

e) a análise de conjuntura se insere como um instrumento teórico e prático deste projeto alternativo que é basicamente um projeto popular, nacional, socialista e democrático da vida.


Objeto da análise de conjuntura

O objeto específico da analise de conjuntura são as correlações de forças sociais, tais como elas se expressam na instância ou nível político de uma formação econômico-social.

Por forças sociais se entende aqui a expressão das classes sociais no nível político. O estudo e conhecimento das expressões da luta de classes nos níveis econômico-social e cultural são condições da análise de conjuntura, mas não constituem seu objeto específico.

Para entender e conhecer seu objeto, a análise de conjuntura se situa na perspectiva do materialismo histórico e particularmente utiliza suas categorias de modo de produção, formação econômico-social, estrutura do capitalismo dependente, situação social e conjuntura social, Estado como ditadura de classe, formas de dominação e forças sociais.

Para se constituir efetivamente como um instrumento de inserção política e contribuir para o desenvolvimento do movimento popular em seu processo de libertação, a análise de conjuntura supõe o manejo pormenorizado da história específica (econômico-social, política e cultural) da formação social cuja instância política é objeto da análise. Neste campo, o materialismo é um princípio de conhecimento (um princípio de ordem e sentido), mas não desloca nem substitui o quadro vivo que configura a história especifica de cada sociedade.


Objetivos da análise de conjuntura

Os objetivos gerais da análise de conjuntura são:

a) determinar a situação atual das forças sociais no campo da política;

b) determinar, a partir do estudo da situação atual, as tendências de desenvolvimento das forças que constituem o campo da política;

c) mostrar as distintas alternativas que podem oferecer as tendências em seu desenvolvimento e

d) definir tarefas políticas específicas no interior das determinações conjunturais.

Os objetivos específicos da análise são:

a) determinar o caráter da situação política que vive a formação social e datar seu início apoiando-se em acontecimentos significativos;

b) caracterizar o conflito e o problema fundamental que define a cena política num momento determinado;

c) colocar em relação esse problema fundamental com a estrutura política e com a confrontação atual das diversas forças políticas;

d) caracterizar o ator ou atores principais do problema fundamental, o cenário ou cenários em que se expressam, suas formas de articulação atuais e suas possibilidades de desenvolvimento;

e) caracterizar a relação entre os atores principais do problema fundamental em termos de domínio (força potencial e real, disposição ofensiva ou defensiva, controle, etc.) e suas alternativas de desenvolvimento (como o setor mais forte consolida ou acrescenta ou vê diminuído seu poder, como o setor mais fraco diminui sua precariedade relativa ou se enfraquece mais ainda, etc.)

f) determinar e caracterizar as possibilidades de alianças políticas dos atores principais e seus efeitos possíveis sobre o quadro geral e o desenvolvimento de suas tendências;

g) determinar exaustivamente a situação política dos diversos setores sociais que configuram o povo em referência ao projeto estratégico revolucionário e

h) determinar níveis de ação política: nacional, regional, local, orgânicos, seus meios de realização, suas metas e sua articulação com o desenvolvimento político fundamental.


Finalidade da análise de conjuntura

A análise de conjuntura se propõe a contribuir, como instrumento de conhecimento e de direção, à configuração do povo como força social alternativa dentro do sistema capitalista dependente, isso quer dizer, a sua conformação como força política que busca desde seus próprios valores a transformação do estado atual de vida e a materialização histórica de uma sociedade digna para todos os seres humanos.

Para alcançar este propósito, a análise de conjuntura deve atingir em sua forma e conteúdo, a categoria de um ativador, organizador e mobilizador material dos diversos setores do povo.

Por isso a análise de conjuntura toma forma de um diagnóstico responsável, elaborado e discutido por equipes de trabalho, fundado em um projeto nacional de libertação popular e, consequentemente, a de um indicador de vias de ação e de tarefas possíveis e necessárias para este projeto.

Para constituir-se como um efetivo instrumento de ação política, a análise de conjuntura evita sistematicamente, em sua produção e em sua forma e conteúdo, o subjetivismo, a unilateralidade e a superficialidade. Em sua apresentação, e como instrumento de educação popular, o informe de análise de conjuntura evita o dogmatismo, a manipulação, a solenidade oca e a criptografia.

Por dogmatismo se entende a apresentação da realidade histórica mediante fórmulas não explicadas ou insuficientemente explicadas. A manipulação consiste na orquestração de informação com o propósito de criar efeitos comunicativos que não procedem rigorosamente do material objetivo. A solenidade oca substitui um estilo rigoroso e direto por palavrório inflado e rebuscado, alusivo e metafórico, que busca disfarçar a ignorância ou imperícia com a pompa. A criptografia consiste em velar a comunicação por trás de uma linguagem que se pretende técnica e científica, mas que resulta própria dos iniciados.

Ao contrário, em sua elaboração e apresentação, a análise de conjuntura cultiva a discussão responsável, informada, objetiva, multilateral, rigorosa e criativa. Sua apresentação final deve contribuir sempre para a educação e integração política dos setores do povo.


Bases humanas da análise de conjuntura
A análise de conjuntura é o resultado da investigação, estudo e discussão coletiva de equipes de trabalho especializadas, integradas e coordenadas por um projeto político de libertação nacional e social.


Base material da análise de conjuntura

As necessidade materiais básicas da análise de conjuntura respondem aos requerimentos que permitem alcançar suas objetivos mínimos:

a) Uma biblioteca básica, organizada em seções de teoria e história:

1. Teoria: textos fundamentais do materialismo histórico; análise da organização capitalista da produção; análise do capitalismo dependente; estudos específicos sobre a economia, a política e a cultura sob o domínio da organização capitalista da vida;

2. História: estudos sobre a história do país (se possível a partir da perspectiva da luta de classes); estudos sobre a economia, política e cultura do país; estudos sobre o movimento operário do país; sobre o movimento camponês, sobre o movimento comunitário, organizações de mulheres e de jovens; sobre a organização e luta dos trabalhadores da América Latina; sobre experiências revolucionárias latino-americanas; sobre a participação de cristãos em processos revolucionários; sobre as ações do imperialismo na América Latina.

b) Uma seção de arquivos e pastas:

1. Um arquivo de informações da imprensa diária, com material identificado, classificado e organizado em seções e períodos: economia (janeiro 1 – janeiro 15); sociedade (janeiro 1 – janeiro 15); política (igual); cultura (igual).

Segundo a capacidade de trabalho, se fazem possíveis subseções: classes dominantes/ setores dominados; nacional/internacional; aparato administrativo do Estado/ aparato repressivo do Estado, etc.

2. Um arquivo de imprensa periódica não diária (semanários, revistas) e panfletos, com material identificado, classificado e organizado (se necessário, resumido).

3. Um arquivo de tabelas e estatísticas básicas (economia, política, movimentos sociais, etc.).

4. Um arquivo de documentos políticos atuais, lançados por partidos, governos, organismos internacionais, classificados tematicamente, e se necessário, resumidos.

O material de arquivo, organizado sem pausa, deve ser periodicamente analisado. Dando origem assim a informes parciais, de síntese, que mostram já traços analíticos (periodicidade: a cada 15 dias, cada mês).

Ele possibilita:

5) Uma pasta de informes parciais, cuja discussão regular, fundamenta a análise de conjuntura; podem estar organizados por cenários ou atores políticos; também por projetos estratégicos.

6) Um arquivo de análise de conjuntura, que recolhe os informes emanados de análises e que cobre funções de consulta, educação e auto-avaliação.

Reiterada observação óbvia: o trabalho de uma oficina de conjuntura – recolhimento, organização discussão, elaboração de materiais – é permanente.


* Gallardo, Helio. Fundamentos de Formacion Politica – Análisis de Coyuntura (2º edição). Colección Universitaria. Costa Rica: Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1990. Pags 95-99.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tese da Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC ao Congresso dos Estudantes da UFC


1. Nada escapa da luta de classes, nem a universidade nem o movimento estudantil

“Como vemos, as condições econômico-sociais do estudante universitário somente se tornam um problema porque a sociedade é um sistema de classes, isto é, uma sociedade em que os homens se apropriam diferencialmente do produto do trabalho social. (...) Em suma, excluídas a burguesia, cujos filhos podem frequentar estabelecimentos privados, e uma parte da classe média, cujos os membros não podem matricular-se senão nas escolas públicas, porque gratuitas, ficam fora da escola os jovens de grande parte da classe média e de todo o proletariado, que não possuem as condições mínimas para cursar sequer a escola pública.” Octavio Ianni, 1963

A tese da Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC aqui apresentada é produto da militância classista no movimento estudantil e tem como objetivo fomentar o debate acerca dos problemas da universidade, analisando concretamente suas mazelas, bem como propondo alternativas concretas de modificação do seu atual quadro, que passa necessariamente pelo fomento das lutas reivindicativas dos estudantes, técnicos e professores da Universidade. Entendemos que o ME deve ser produto da luta de classes no local de estudo e como fração da classe trabalhadora, ligar estrategicamente sua luta com a dos demais setores da classe.
A Universidade não é um espaço neutro na sociedade capitalista. Inserida no contexto histórico de uma sociedade de classes, ela também representa interesses de classe. Sua estrutura burocrático-autoritária é voltada para as demandas econômicas, políticas e ideológicas da burguesia e de sua dominação de classe. O papel de seus gestores (como a Reitoria) é manter o aparato burocrático a serviço do capital. Nesse sentido, a concepção da educação como mercadoria é o resultado da materialidade da dominação burguesa sobre a Universidade.

Os consecutivos governos liberais, de matizes política conservadora ou social-democrata, dão continui-dade a essa linha político-ideológica de subordinação da Educação aos interesses do capital (e de sua liquida-ção enquanto coisa “pública”). Os governos de turno não são capazes de romper com essa política de subordinação, pois são eles mesmos os gestores dessa subordinação e os agentes dessa liquidação, que se manifesta nas mais variadas conjunturas, através de reformas, leis, decretos e medidas provisórias. Assim, a Educação de hoje tende a ser cada vez mais uma educação para o capital, que visa o desenvolvimento da acumulação de capital através do aprimoramento da exploração da força de trabalho. Entendendo que a UFC não está situada em uma ilha separada de toda a sociedade, ao contrário, ela faz parte da sociedade e possui uma função social, que se modifica a cada gestão de governo. Faremos então aqui uma análise materialista da realidade, tentaremos apreender resumidamente nesta tese a relação entre a totalidade da sociedade capitalista com a realidade dos cursos da UFC, bem como seu movimento contrário.
Entendemos a realidade como continuas ações e reações do todo sobre cada parte e de cada parte sobre o todo, por excelência contraditória. A principal contradição da sociedade da qual vivemos é a batalha entre o capital e o trabalho. Desta batalha é que surge a luta de classes, pois desde seu nascedouro a burguesia se apropria dos frutos do trabalho bem como da força de trabalho de todo proletariado mundial. Entendemos os estudantes como uma fração da classe trabalhadora, defendemos o estudante pobre e/ou trabalhador assim como defendemos a libertação proletária. Na sociedade de classes do sistema capitalista nada escapa da luta de classes, nem a universidade nem o Movimento Estudantil.

2. A atual fase do capitalismo e o modelo de super-exploração ultra-monopolista: neoliberalismo e toyotismo

Podemos dizer que o capitalismo contemporâneo é fruto da evolução e transformação do capitalismo monopolista de Estado . O Estado seria o grande engenheiro social responsável por viabilizar e tutelar a acu-mulação de capital.

Nesse campo, a burguesia internacional percebeu que era preciso, para desenvolver o capitalismo, mudar sua estratégia, era preciso fazer concessões à classe trabalhadora e integrar materialmente os trabalhadores aos interesses da burguesia. O Estado criou as negociações coletivas para regular a oferta de trabalho e a massa salarial, de modo a diminuir as crises de superprodução. Criou também os sistemas previdenciários e formas de salários indiretos (benefícios educacionais, de saúde, incorporados sob a forma dinheiro ou não).
Depois da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo se expandiu aceleradamente. Os trabalhadores euro-peus foram integrados ao mercado consumidor e ao Estado, através dos grandes partidos e sindicatos de mas-sa. O capitalismo, com sua reestruturação, procurou afastar ao mesmo tempo as ameaças da crise e da revolução socialista nos países capitalistas centrais.
A questão é que o financiamento desse modelo, baseado em grandes gastos públicos e produção crescente, era um problema. Nesse sentido, o capitalismo encontrou uma primeira solução: transferir os custos para e acentuar a exploração na periferia. Assim, as grandes empresas e o capital estrangeiro buscaram países como Brasil e demais países da América Latina para a implantação de suas plantas industriais.
Deste modo, começa a se desenvolver também na periferia a industrialização. E com ela o próprio capitalismo monopolista de Estado. Mas, ao contrário do que acontecera no centro, na periferia não deveria existir espaço para concessões aos trabalhadores. O lucro era máximo, o salário deveria ser colocado na média mínima possível e os direitos reduzidos .
O capitalismo de Estado na América Latina foi desenvolvimentista e o desenvolvimentismo foi ou in-capaz de levar adiante as reformas sociais ou contra-revolucionário e militarista. As experiências no Brasil com João Gulart e no Chile com Salvador Allende comprovam isso. As ditaduras com programas desenvol-vimentistas, de expansão industrial, associadas à repressão e desigualdade social também.
Mas na década de 1970 o capitalismo entrou em crise, apesar de tentar transferir os custos do seu modelo de desenvolvimento para a periferia. As revoluções anti-coloniais quebraram alguns elos da reprodução imperialista na Ásia, fazendo com que a transferência da desigualdade não fosse mais realizada da maneira que era necessário. A crise do petróleo em 1973 precipitou uma nova reestruturação global do capitalismo.
Os custos com os gastos sociais passaram a ser inaceitáveis para a burguesia. Nesse sentido foram desenvolvidas duas grandes estratégias, uma macro e outra microeconômica. A macro foi o neoliberalismo. Era preciso reformar o Estado, transferindo os setores estratégicos de produção para a iniciativa privada. Eliminando ou diminuindo o peso dos seus setores “sociais” (especialmente, a previdência). A microeconômica foi o toyotismo. Surgido no Japão, era uma nova forma de administrar a empresa .
Essa nova reestruturação teve um profundo impacto no mundo. Aumentou o número de pobres, destruiu vários sindicatos e mesmo categorias profissionais. No mundo e no Brasil, esse modelo se espalhou especialmente a partir dos anos 1980 e 1990 .
Fazendo um balanço histórico, podemos ver que o capitalismo monopolista de Estado deu lugar um capitalismo ultra-mopolista e neoliberal. Essa era a situação até 2008, com a eclosão da crise mundial. E a crise só vai mostrar como o Estado, mais uma vez, é acionado para salvar o capital e como ele faz isso atacando os trabalhadores. E a crise do capital vai sobrepor-se a uma crise da organização dos próprios trabalhadores. Crise esta que é fruto da história do capitalismo e da relação dos trabalhadores com tal processo. Nos dois modelos de desenvolvimento e acumulação capitalista, houve movimentos de cooptação dos sindicatos e trabalhadores. O estatismo se desenvolveu como força de repressão e cooptação dos sindicatos, e assim ainda permanece. E o toytismo veio para completar a tarefa por outras vias, dando uma feição “participativa” e “democrática” no local de trabalho a essa dominação. Assim, o capital não somente se reestruturou, mas dirigiu a reestruturação da organização dos trabalhadores. E isso continua acontecendo.

3. A Era Lula/PT: transição pacífica dos movimentos sociais para a esfera do governo

“Contra a intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres. Não se deixar esmagar, não se deixar cooptar. Lutar Sempre!” Florestan Fernandes

No Governo Lula/PT ocorrerá uma transição pacífica dos movimentos sociais para a esfera governista (CUT, UNE, MST). Várias das lideranças e das entidades hegemônicas do movimento sindical-popular são cooptadas para a gerência petista do Estado brasileiro.
As táticas de cooptação variam nos diversos setores, seja assumindo ministérios, recebendo grandes verbas ou atenuando as lutas. Um dos exemplos mais descaradamente visíveis é o do presidente da CUT, Marinho, que se tornou Ministro do Trabalho. A UNE foi vendida e recebe mais de 12,9 milhões desde 2003 para implementar sua linha governista de desmobilização no movimento dos estudantes, e o MST reorientou seu eixo da luta pela terra e pela reforma agrária para uma luta “contra o agronegócio”. O exemplo do MST merece atenção por ser talvez a tática mais sofisticada de cooptação. A luta pela terra, por sua vez, passou a ser uma “disputa interna” entre ministérios e pastas de governo e não mais dada através da ação direta. Isto se verifica na redução das ocupações de terra, que acontece desde 2003, e nas lutas espetaculares contra as empresas e propriedades do “agronegócio”, em torno de argumentos pró-ecologia, direitos humanos, anti-transgênicos, etc.
É bem verdade que a CUT e a UNE abandonaram a estratégia da greve geral nos anos 1980 e adotaram uma estratégia parlamentar e propositiva nos anos 1990, selando assim o modelo de sindicalismo de Estado e de colaboração de classes. Mas é somente no atual governo Lula/PT que elas se tornaram um verdadeiro braço e sucursal do governismo no movimento sindical e popular, amortecendo a luta de diversas categorias e desorganizando setores estudantis secundaristas e universitários para melhor aplicação das reformas pelo governo e o capital. A prova para tanto é que o governo Lula/PT conseguiu aplicar melhor as reformas neoliberais do que seus antecessores como a Reforma da Previdência (2003) que Collor e FHC tentaram aplicar e Lula conseguiu com apoio da maioria na Câmara dos Deputados e no Senado ao final do primeiro ano do primeiro mandato. E a Reforma Universitária, que analisaremos melhor adiante, na qual a UNE exerce apoio incondicional.
O PT de Lula assim aliou-se a sindicalistas e industriais, sem-terras e latifundiários, estudantes e ban-queiros, tendo como estratégia o pacto social para manter a sua hegemonia e atenuar a luta de classes. No Ceará aliou-se a oligarquia Ferreira Gomes, através do governo Cid/PSB, que implantou a Polícia do Terror por Quarteirão que extermina e oprime a juventude mestiça e pobre da periferia de Fortaleza e do interior do Estado, encoberta pelo véu de “polícia comunitária” com a alcunha de Ronda do Quarteirão.

4. Governo Cid/PSB: tratando as questões sociais como caso de polícia

“No passado remoto e presente, a norma era: o escravo é o inimigo público da ordem; nos tempos modernos a norma tornou-se: o colono, o camponês e o operário são o inimigo público da ordem.” Florestan Fernandes, 1981

No plano político, podemos dizer que integrantes de uma mesma oligarquia (oriunda do Centro Industrial do Ceará – CIC) vêm se alternando no controle do Governo do Estado desde o fim do regime militar. Tasso Jereissati (PSDB) foi eleito em 1986, Ciro Gomes (PSDB) em 1990, Tasso Jereissati novamente em 1994 e 1998, Lúcio Alcântara (PSDB) em 2002 e Cid Gomes (PSB, irmão de Ciro Gomes e apoiado por Tasso Jereissati) em 2006.
Atualmente, Cid Gomes/PSB governa o estado do Ceará com uma ampla aliança burguesa, contando com o apoio oficial dos partidos governistas (PSB, PT, PC do B). Em 2010, sua reeleição é dada como certa. O governo estadual, ao mesmo tempo em que reprimiu violentamente os servidores estaduais que entraram em luta em 2009, e não concedeu sequer o Piso Salarial Nacional para os professores estaduais, por outro lado, gasta milhões com a compra de carros de luxo Hilux para seu programa de repressão Ronda do Quarteirão, e outros milhões na construção de projetos faraônicos como o novo Centro de Convenções e a Copa do Mundo de 2014 para incentivo do turismo especulativo.
Segundo o secretário de segurança Roberto Monteiro, desde a implantação do programa Ronda do Quarteirão (novembro de 2007) até junho de 2008 se tinha gastado R$ 57 milhões exclusivamente com o programa. O secretário ainda afirmou que “Se for preciso gastar R$ 100 ou R$ 200 milhões, que se gaste para dar uma segurança efetiva, até porque o governador Cid Gomes elegeu essa área como prioridade” . Enquanto que cada HiluxSW4-extermínio custa R$ 165 mil cada, o oligarca Cid/PSB nega-se a conceder o piso salarial dos professores. E o prestígio de seu programa de polícia comunitária vai caindo em descrédito devido a ação desastrosa dos ditos “policiais comunitários” do Ronda que figuram em infantis acidentes de automóvel, abordagens preconceituosas e no recente assassinato do inocente e jovem trabalhador Bruce Cristian. Prioridade com “segurança pública” no regime capitalista significa repressão e massacre do povo, política de extermínio e de guetização que encontra na polícia do Rio de Janeiro e nas recentes Unidade Policiais Pacificadoras (UPPs) seus exemplos mais desenvolvidos.
O plano de governo Cid/PSB é perpassado pela estratégia de transformar as questões sociais em questões de “segurança pública”, isso quer dizer, em caso de polícia. As medidas contra todas as mazelas sociais que vivemos são perpassadas pelo eixo administrativo da “segurança pública”, resolvendo questões trabalhistas, estudantis, de moradia e saúde com o incremento do aparelho repressor de Estado. Com a milionária Copa de 2014, o cenário que se abre para os próximos anos é de mais ofensiva sobre o povo, juventude pobre e trabalhadores em geral. O planejamento urbano que acompanha a chegada do evento internacional beneficiará somente a especulação turística e imobiliária, as empreiteiras, unindo a burguesia e a burocracia estatal no desalojamento de famílias pobres de Fortaleza, numa política de limpeza social, reforçada pelo aparato repressivo (guardas, polícias e exército) através de “questões de segurança pública”, representando a venda de nossa cidade aos conglomerados transnacionais e ao imperialismo. A luta popular por moradia em Fortaleza deve estar preparada para esse cenário onde somente a ação direta das massas pode dar uma verdadeira resposta popular à situação de deterioração social e as coações do aparato repressor.

5. Governo Luiziane/PT: a realidade da luta de classes e a farsa da Fortaleza Bela

A prefeitura municipal é comandada pela petista Luizianne Lins, eleita em 2004 e reeleita em 2008. Luizianne (assim como Lula, mas diferentemente de Cid) veio da militância dos movimentos sociais. Logo, consegue cooptar parte significativa dos sindicatos e organizações populares e de classe para o seu governo, entre outras formas, pelo orçamento participativo. Assim, os governos federal, estadual e municipal seguem uma mesma orientação política e apesar de se intitularem dos "trabalhadores", exploraram e oprimiram ainda mais o proletariado que depositou confiança neles mais do que em seus antecessores. Logo, a luta de classes em Fortaleza assume uma característica peculiar: o alinhamento claro dos Governos Municipal, Estadual e Federal. Isto, somado à cooptação de parte significativa dos movimentos sociais para a política governista, gerou desdobramentos funestos na vida dos trabalhadores, com ataques coordenados vindo das três esferas administrativas.
Nos últimos anos a prefeita/PT demonstrou ser aliada da máfia do Sindiônibus (sindicato dos patrões do transporte), dando isenção de impostos aos empresários, aumento de passagem para o povo e arrocho salarial para os trabalhadores rodoviários, mostrando que a Fortaleza Bela só existe para os patrões. A atual luta por reajuste salarial dos trabalhadores rodoviários vem sofrendo ataques do bloco Sindiônibus/Justiça burguesa/Etufor-Prefeitura-PT. Junto com a mídia burguesa (O Povo/Diário do Nordeste e sucursais televisivas e radiofônicas) a prefeitura petista vem tentando isolar a greve e facilitar a ofensiva patronal sobre os rodoviários. A Justiça do Trabalho e a Mídia se comportam como retaguarda dos patrões nos ataques aos trabalhadores.
Essa ofensiva passa por tratar a luta dos rodoviários como caso de polícia, reforçando o policiamento municipal em dias de mobilização da categoria e, como Cid/PSB, tratando as questões sociais como caso policial. Assim ficou evidente no dia 16 de junho quando da revolta popular no Terminal da Parangaba. O protesto do povo foi recebido com cassetetes, tiros, spray de pimenta, espancamentos, algemas e detenções. Os cerca de 40 guardas regulares e do Pelotão de Operações Especiais presentes no terminal (O Estado 17/06), tiveram reforço na parte externa pelos tiros do Batalhão de Choque e atacaram indiscriminadamente o povo, num saldo de 5 detidos e 2 feridos gravemente na cabeça, com dois policiais atingidos por pedras e socos. Os fatos ocorridos no terminal da Parangaba devem ser entendidos como o produto da situação material em que vive a classe trabalhadora em geral e particularmente em relação à realidade do transporte público da capital. A resposta popular a essa situação se materializou no bloqueio das entradas do terminal, na depredação de ônibus e de confronto com a Guarda Municipal e o Batalhão de Choque da PM.
A atual luta dos rodoviários em 2010 é uma das mais importantes de Fortaleza e sua vitória ou derrota exercerá grande influência nas próximas batalhas do proletariado da cidade. A classe trabalhadora deve articular sua própria defesa e ofensiva de classe. Nessa conjuntura essa ofensiva deve ganhar caráter material através de organização unitária de rodoviários, estudantes e povo pobre. O desenvolvimento da luta de classes demonstrou a necessidade concreta de construir uma real unidade proletária, onde no contexto da aliança operário-estudantil os estudantes não poderiam apenas se limitar a executar tarefas e prestar um apoio secundário aos rodoviários, mas sim apontar para uma luta comum de rodoviários e estudantes com bandeiras que dialogassem com as necessidades materiais do povo, como passe livre para estudantes e desempregados e reajuste salarial digno para a categoria, somadas a pautas populares como redução da passagem e melhoria física dos ônibus e terminais.
Assim, o ME que poderia ter se tornado uma importante e efetiva retaguarda combativa para os rodoviários, através de uma estratégia de unidade de classe, que levasse para as universidades e os locais de estudo em geral as bandeiras dos rodoviários interligadas com as bandeiras históricas dos estudantes (através de debates e agitação e propaganda), se limitou a um sincero, mas fraco apoio de prestar ajudas pontuais.
Essa ajuda pontual e os limites da ação do ME no contexto da greve dos rodoviários são um efeito do seu nível atual de organização e da concepção policlassista de ME. A recente luta dos rodoviários e a pouca mobilização do ME no sentido de reforçar essa luta e desenvolver suas próprias pautas conjuntamente com a luta dos rodoviários mostra o quanto o nosso movimento se encontra distanciado da luta dos trabalhadores. Para superar este atual estágio de desorganização e confusão ideológica devemos combater a concepção policlassista na prática com bandeiras reivindicativas em geral e do próprio ME que dialoguem com bandeiras da classe trabalhadora na construção de lutas comuns através de organismos de base que reúnam estudantes e trabalhadores através de uma linha anti-governista e de ação direta, fazendo o combate ao corporativismo e o economicismo, tendo a greve geral como norte estratégico.
Resta aos estudantes e seus setores combativos transformarem a palavra de ordem de aliança operária-estudandil em realidade através de comitês de luta que defendam pautas intersindicais e populares como passe-livre para estudantes e desempregados, redução da passagem, contra as lotações e precarização dos ônibus e terminais, junto as pautas de reajuste dos rodoviários, criando assim uma retaguarda combativa para trabalhadores do transporte coletivo, não deixando a greve se isolar e definhar. A aliança operária-estudantil não deve ser um mero discurso, ela deve ter um caráter de pacto de luta, gerador de unidade proletária contra o corporativismo, potencializando a ação coletiva da classe contra os patrões e o Estado.

6. Campanha Não vote! Lute!

Os cenários nacional, estadual e municipal servem de indicativo para as eleições que se avizinham, pois já está provado que PT/PCdoB e PSDB possuem o mesmo programa político para o Brasil, configurando-se ambos como a esquerda e a direita do capital. E nem mesmo os programas nacionais-desenvolvimentistas do PCB e das correntes externas do PT (PSOL, PSTU, PCO) poderão modificar algo, pois as eleições são uma ilusão promovida pelo Estado burguês, onde muda a gerência da exploração, mas esta permanece enquanto elemento inerente ao capitalismo. Somente a luta pelo socialismo e as melhorias imediatas econômicas nos trarão verdadeiras vitórias, as eleições só deseducam o povo, fazendo acreditar que esse espaço burguês está em disputa e que se podem alcançar melhorias através deste artifício.
Os trabalhadores já pagaram o preço por acreditar que votar no PT melhoraria algo, a situação só piorou em nosso país, por isso convocamos a todos para a campanha Não Vote! Lute! Defendemos que a "Emancipação da classe trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora". Somente a organização do povo e a ação direta das massas trarão vitórias. Lutar para organizar e organizar para lutar se tornam indispensáveis para armar a classe, desenvolvendo a defensiva proletária rumo à ofensiva de classe contra o Estado e o capitalismo.

7. Os limites da oposição para-governista: a Anel e seu parlamentarismo estudantil

Diante do quadro de cooptação de grande parte dos movimentos sociais para a esfera do governo e da degenerescência pelega crônica da UNE se faz necessário analisar também as propostas que se colocaram como alternativa a ela, como a finada Conlute e a recém criada ANEL - Assembléia Nacional de Estudantes Livre, que surge como resultado do recuo na linha do PSTU de rompimento com a UNE e com governismo.
A dissolução da Conlute e da Conlutas (via fusão com a Intersindical), e a fundação da ANEL e da Nova Central, é uma declarada adequação a linha para-governista do PSOL. Basta notar que este último ainda possui todas as suas correntes estudantis dentro da UNE e que suas correntes sindicais induziram a adequação completa da Conlutas nas últimas lutas para a fundação da nova central, em três pontos: 1) Participação ativa na política de unidade com os governistas, já que Intersindical nunca se separou definitivamente da burocracia da CUT; 2) Corte na participação estudantil e de setores do movimento popular na nova entidade, e; 3) Adequação a Reforma Sindical do Governo Lula/PT, para angariar o aparato do imposto sindical.
Este desvio político também conduziu ao oportunismo e a debilidades práticas. Na plenária nacional realizada no dia 30 de janeiro de 2010, em Salvador, a ANEL não apresentou nenhuma política concreta para as reformulações e ataques da burguesia brasileira na educação, não debatendo nada sobre a luta contra o novo ENEM e as reformulações feitas pelo Ensino Médio Inovador (EMI), deixando um vácuo para a luta dos estudantes. Ao mesmo tempo, a ANEL já expressava em suas resoluções do CNE (Congresso Nacional de Estudantes) sua estratégia legalista para este período, que consistiu em apoiar PL’s (Projetos de Lei), plebiscitos, abaixo assinados e candidaturas parlamentares para implementá-los, pois, na prática, a ação direta e as ocupações ficam relegadas a segundo plano; esta resolução fica clara na passagem: “somente (sic) com um projeto como o PL podemos alcançar a universidade que queremos.”

8. Diante do governismo da CUT/UNE e da liquidação da Conlutas: Construir um movimento nacional de oposição sindical, popular e estudantil

Paralelamente ao CNE foi convocada uma Plenária dos Estudantes Classistas e Combativos. A idéia desta plenária era articular através de entidades e oposições de base, como CA’s e grêmios, um movimento estudantil combativo que realmente polarizasse com o governo, sempre ressaltando os métodos de ação direta em detrimento da via burocrática e legalista. Buscando a articulação das lutas em âmbito nacional pela base, fazendo as críticas aos setores carreiristas que utilizam os organismos de base dos estudantes como palanque eleitoral.
Por isso a Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC) entende que se faz urgente e necessária para os estudantes e trabalhadores do Brasil a reorganização de um verdadeiro pólo anti-governista para as lutas contra os ataques do governo e da burguesia, sejam pelo imperialismo ou pela burguesia nacional. Dessa forma, a Nova Central e sua linha para-governista representarão um retrocesso para a luta dos trabalhadores. Então, é imprescindível que se avance nesse momento pós-CONCLAT na construção de plenárias de oposições e entidades de base pró-Movimento Nacional de Oposição Sindical, Popular e Estudantil, espaço que possa discutir a construção de uma verdadeira Central de Classe, capaz de conduzir a luta do proletariado através da ação direta de massas e independência do sindicalismo de Estado e das burocracias governistas.
Esse espaço hoje se materializa, diante da liquidação da Conlutas, nos Fóruns de Oposição pela Base que estão ocorrendo no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, iniciativa essa dos setores combativos de base que diante do fracasso do CONCLAT apontam uma via organizativa e de luta para a classe trabalhadora e os demais setores explorados e oprimidos.

9. Bandeiras de luta

“A primeira questão que hoje temos de considerar é esta: a emancipação das massas operárias poderá ser completa enquanto receberem instrução inferior à dos burguesses (...) que por nascença têm os privilégios de uma educação superior e mais completa? Colocar esta questão não é começar a resolvê-la?” Mikhail Bakunin, Instrução Integral, 1869

a) Reuni: precarizando o trabalho e o ensino superior
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), instituído pelo Decreto nº 6.096/2007(Lula), flexibiliza o ensino, quebra a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, oferece um bacharelado que se assemelha a uma graduação minimalista de três anos, cujo diploma será apenas um certificado generalista, e propõe um novo processo seletivo no fim do terceiro ano do bacharelado para os cursos profissionais. Ele estabelece, como meta, um índice de 90% de conclusão dos cursos e determina a duplicação da relação professor–aluno dos atuais 1/9 para 1/18. Para pôr tudo isso em prática, o governo editou a Portaria Interministerial nº 22/07, que cria o Banco de Professores Equivalentes, o que, segundo avaliação dos professores, vai flexibilizar as relações de trabalho na universidade pública dimuir o número de concursos, diminuir o regime de dedicação exclusiva, e, conseqüentemente, reduzir as atividades de pesquisa.

b) Fundações Privadas
As Fundações de Direito Privado (FDP), são regidas pela lei 8.958/94 (Itamar Franco) e foram regulamenta-das pelo decreto 5.204/04(Lula) , sendo o modelo de “financiamento apoiado” ou privatização consentida, que garantiu as fundações assumirem compromisso da própria universidade, a ponto de gerirem dinheiro público (em razão disso cobram taxa de gestão) e de assumirem funções do poder público, como contratação de servidores. Dados do Dossiê Nacional sobre as Fundações do ANDES-SN demonstram que as FDP são quem depende da Universidade e não ao contrário, sendo que a principal captação de verbas são públicas ou da própria comunidade através de cursos pagos. Assim as FDP são entidades parasitas e corruptas (vide caso Thimoty/Finatec/ Funsaude e vários outros Brasil a fora) por isso seu fim é desejável e necessário, portanto, é necessário que todas as verbas sejam geridas por fundação pública sob controle dos estudantes, professores e funcionários, e uma luta para o aumento das verbas que não sejam para banqueiros ou parlamentares.

c) Novo ENEM: instrumento de intensificação da exclusão
O modelo proposto pelo governo representa uma intensificação dos pressupostos meritocráticos e da ideologia do Capital Humano e das competências. Agora o aluno terá opção de escolher diversos cursos e universidades de acordo com o ranking feito pelos índices do MEC a partir do SINAES-ENADE, porém a classificação se dará de acordo com as notas do ENEM.Assim, os melhores alunos – as melhores notas - do Exame se concentrarão em algumas poucas universidades e o governo concentrará investimentos em alguns centros de excelências de pesquisa, já beneficiado pela avaliação do SINAES sendo que algumas outras universidades já periféricas se encontrarão ainda mais marginalizadas ainda. O governo federal através do Ministro da Educação, Fernando Haddad, com apoio da União Nacional dos Estudantes, controlada e burocratizada pelos pelegos da UJS/PCdoB, adotaram a máxima dos nazistas e dos capitalistas de que uma mentira repetida várias vezes vira verdade. Assim eles fazem quando afirmam que atual Reforma Universitária está democratizando a universidade. Na verdade o ministro e a UNE anunciaram a substituição do processo seletivo descentralizado nas universidades públicas pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) com algumas mudanças. O modelo é inspirado no processo seletivo americano, o Scholastic Assessment Test (SAT), e não eliminará o processo seletivo excludente que é a marca do vestibular. O modelo proposto pelo governo representa uma intensificação dos pressupostos meritocráticos e da ideologia do Capital Humano e das competências. Agora o aluno terá opção de escolher diversos cursos e universidades de acordo com o ranking feito pelos índices do MEC a partir do SINAES-ENADE, porém a classificação se dará de acordo com as notas do ENEM. Assim, os melhores alunos – as melhores notas - do Exame se concentrarão em algumas poucas universidades e o governo concentrará investimentos em alguns centros de excelências de pesquisa, já beneficiado pela avaliação do SINAES. O novo sistema consegue a proeza de ser mais excludente. Novamente os jovens das favelas e periferias e filhos dos trabalhadores estarão fora, a sua entrada no “ensino superior” será através do PROUNI para estudar-consumir em uma Universidade Shopping-Center. Eis a farsa. Para garantir que as universidades aprovem o Novo Vestibular o governo acena com uma prática comum no Senado e na Câmara: suborno, mensalão, jabá, etc. Assim faz Haddad: aprovem o ENEM e terão mais verbas para assistência estudantil. A Secretaria da Juventude do Ministério, a UNE, agradece. Criar comitês de luta em cada cursinho pré-vestibular e curso universitário para mobilizar e lutar pelo acesso livre é uma necessidade atual da luta contra a velha inimiga dos estudantes, a Reforma da Educação.

d) Ensino Médio Inovador: precarizar o ensino e criar mão de obra barata para a burguesia
O Ministro da Educação de Lula/PT, Fernando Haddad, já apresentou o projeto de reforma no Ensino Médio, o qual foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O EMI, entre outras medidas, substituirá as 12 disciplinas tradicionais por quatro grandes eixos temáticos, são eles: trabalho, ciência, tecnologia e cultura; similares aos cobrados no Enembular. Tal agrupamento em grandes blocos de disciplinas é tratado pelo MEC como “interdisciplinaridade”, no entanto representará uma diluição das especificidades de cada disciplina, tornando o aprendizado genérico e abstrato. O eixo trabalho, por exemplo, bastante enfatizado no Documento Orientador do MEC, evidencia a postura neoliberal do governo ao firmar um compromisso com o mercado de trabalho, valorizando o tecnicismo em detrimento da formação humana. Isso representa uma contradição entre os interesses dos capitalistas e dos secundaristas e docentes do ensino médio. Na Portaria Nº 971 do MEC, que institui o EMI, vemos esta evidencia quando é previsto a existência de articulação e parceria das redes de ensino público com o chamado “Sistema S” (como SESC, SENAC, SESI, SENAI etc.) – organizações empresariais cujo objetivo é treinar e qualificar mão-de-obra de acordo com a demanda do comércio e da indústria.

e) Barrar a regulamentação das profissões
Estamos passando agora também por um processo de regulamentação da profissão de diversas categorias. Na Pedagogia, por exemplo, já está tramitando na Câmara Federal sem nenhum debate nas bases da comunidade acadêmica, tratando-se de um processo antidemocrático e excludente. A regulamentação em outros cursos causou diversos problemas, como na Educação Física, com a criação de conselhos fiscais que cobram impostos e não trazem nenhum benefício para os profissionais. No caso de cursos como Pedagogia, essa regulamentação abre a possibilidade de acabar com os educadores populares, exigindo diploma de quem não tem ao invés de se criarem mais cursos de graduação.

f) Pelo Passe-livre/Livre Acesso
A bandeira do Passe-Livre estudantil, assim como a bandeira do Livre-Acesso, foi dita em outros momentos por vários setores reformistas de que não dialogava, por ser uma bandeira de médio-longo prazo, no entanto está bandeira mobilizou milhares de estudantes por todo o Brasil nos anos recentes. Em Fortaleza, em 2004, cerca de 6.000 estudantes destruíram a prefeitura e incendiaram carros da AMC como forma de protesto. Alguns universitários de hoje são dessa geração secundarista combativa que empunhava a bandeira do Passe-Livre. A bandeira do Livre-Acesso a Universidade dialoga principalmente com os estudantes secundaristas de escolas públicas, excluídos em sua maioria de cursarem cursos superiores, devido ao limitadíssimo número de vagas nas universidades públicas brasileiras. Bandeiras de médio-longo prazo como a do Livre-Acesso atreladas a bandeiras de curto prazo como a recusa do ENEM, é a melhor tática para garantir a ligação das lutas de hoje e amanhã e sua ligação estratégica. A estratégia em reivindicar unicamente bandeiras imediatistas como a "revogação do Ad Referendum" desatrelada da bandeira do Livre-Acessotal, como o atual DCE propôs, está em acordo com a política de parlamentarismo estudantil que esse setor desempenha, que sem perspectiva de continuidade das lutas, participa dessas com o exclusivo propósito de palanque eleitoral.

g) Lutar pelo Voto Universal é lutar por democracia na universidade
O CONSUNI, é o símbolo do autoritarismo da universidade, é lá onde são tomadas todas as decisões da uni-versidade, formada por um punhado de conselheiros onde a maioria são chefes de departamentos da universidade e fazem o jogo do reitor (este por sua vez capacho do governo). Foi lá onde foi aprovado o REUNI em 2007, sem o menor debate, com os estudantes completamente alheios ao processo. Democracia só existirá na UFC quando colocarmos fim ao CONSUNI, somente quando todos os estudantes, professores e servidores poderem votar livremente em todas as instâncias da universidade, poderemos ser realmente democráticos. Defendemos o voto universal, uma pessoa um voto, como modelo decisório para universidade em contraposição ao ultra-burocrático CONSUNI, para que absurdos como o AD Referendum possam ter fim.

Plenária Regional de Base dos Trabalhadores e da Juventude


Convidamos todos os lutadores para a Plenária Regional de Base dos Trabalhadores e da Juventude a ser realizada em Fortaleza. Outras Plenárias estão sendo realizadas mensalmente como parte do Fórum de Oposição pela Base no Centro-oeste e Sudeste.

O Fórum se constituiu a partir das plenárias organizadas no CONCLAT em Santos (Junho de 2010) para discutir e encaminhar possiveis atuações unitárias dos setores classistas e combativos do movimento sindical, popular e estudantil.

O Fórum tem como objetivo organizar a luta dos trabalhadores pela base e por isso se constitui com militantes, ativistas e movimentos por local de trabalho, estudo e moradia. Constituindo-se como uma alternativa de luta real para o conjunto da classe trabalhadora.

Data: 21 de agosto (Sábado)
Hora: 9:00 às 13:00
Local: Auditório (antigo) da Faculdade de Educação (FACED) UFC

Pautas: Análise de conjuntura, debate aberto, Plenária Nacional (7 de setembro), finanças, encaminhamentos

Organização:Movimento de Oposição Bancária (Ceará), Oposição Forte e de Luta no Judiciário Federal (Ceará), Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC, Oposição de luta ao SINDIUTE (Ceará), Oposição Camponesa no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Madalena (Ceará), Oposição de Luta ao SINTEMA (Maranhão), Rede Estudantil Classista e Combativa, Tendência Revolucionária Sindical, Liga Bolchevique Internacionalista.

http://oposicaopelabase.blogspot.com/

sábado, 31 de julho de 2010

Reunião do Fórum de Oposição pela Base

Convidamos todos os lutadores para a primeira reunião do Fórum de Oposição pela Base a ser realizado no Nordeste. Outros fóruns estão sendo organizados também no Centro-oeste, Sudeste e Sul.
O Fórum se constituiu a partir das plenárias organizadas no CONCLAT em Santos (Junho de 2010) para discutir e encaminhar possiveis atuações unitárias dos setores classistas e combativos do movimento sindical, popular e estudantil.
O Fórum tem como objetivo organizar a luta dos trabalhadores pela base e por isso se constitui com militantes, ativistas e movimentos por local de trabalho, estudo e moradia.
Local: Faculdade de Educação da UFC (FACED)
Data: 02 de agosto (segunda-feira)
Hora: 14:00

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Construir um ENEPE classista e combativo


Entre os dias 17 a 24 de Julho, ocorrerá em Brasília, o 30º Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia (ENEPe). O encontro se dará em uma conjuntura desfavorável e limitada, pois torna-se necessária cada vez mais uma discussão séria e aprofundada sobre os rumos do curso de pedagogia, bem como de toda a educação brasileira.

A Reforma Universitária de Lula/PT, a precarização do Ensino Público e o curso de Pedagogia

Nos últimos anos, a reforma universitária vem se ampliando progressivamente, danificando e pondo em risco uma educação pública de qualidade, e com a entrada do ministro Haddad a precarização intensificou-se nos diversos níveis de ensino.

Podemos constatar os efeitos perversos do projeto privatizante dos petistas para a educação, por exemplo, no intensivo aumento de faculdades privadas, que representam hoje mais de 75% das matrículas feitas no ensino superior (INEP 2008). Vemos as conseqüências nitidamente em nosso curso, onde se abrem diversos cursos de baixa qualidade, com menos de 3 anos em instituições sem estruturas. O plano de governo que consta todos esses ataques à educação é o famigerado PDE (Plano de Desenvolvimento Educacional), o “PAC” da educação, que em seu primeiro momento lançou o REUNI, PROUNI e ENADE, e agora nos ataca com o elitista Novo Enem, e o projeto que visa transformar o ensino médio em algo tecnicista e voltado para os interesses do capital, o Ensino Médio “Inovador” (EMI).

Pertencentemente a esse processo de precarização crescente, vemos o aumento de cursos de pedagogia a distância. É necessário deixar claro que a utilização de novas tecnologias é salutar para o processo de ensino e aprendizagem. Mas a questão a se colocar é como o governo se utiliza desses projetos. No caso da UAB (Universidade Aberta do Brasil) fica claro que o governo Lula/PT utilizar-se de novas tecnologias apenas para baratear os custos da educação.

Um curso universitário é composto por um tripé, ensino, pesquisa e extensão, e a maioria desses cursos, de rede privada ou semi-presencial, que vem se proliferando nos últimos anos, não compõem este tripé, descaracterizando os cursos universitários, transformando os cursos em verdadeiros “escolões”. E infelizmente, apesar da sua relevância social, o curso campeão em universidades pagas e cursos a distância é o curso de pedagogia.

Regulamentação da profissão de pedagogo

Estamos passando agora também por um processo de regulamentação da profissão do pedagogo, que já está tramitando na câmara federal sem nenhum debate nas bases da comunidade acadêmica. A regulamentação em outros cursos causou diversos problemas, como a criação de conselhos fiscais que cobram impostos e não trazem nenhum beneficio. No caso do nosso curso, com essa regulamentação, abre-se a possibilidade de acabar com os educadores populares, exigindo diploma de quem não tem ao invés de se criarem mais cursos de graduação.

Encontros de área e a luta dos estudantes de pedagogia

O curso de pedagogia é composto em sua maioria por mulheres de origem proletária, que muitas vezes trabalham, estudam e sustentam uma casa, tendo em diversos casos uma jornada diária dupla ou até mesmo tripla. A maioria das faculdades não tem creches, nem berçários que venham a atender as necessidades das estudantes que são também mães. Esse é o perfil do estudante de pedagogia, estudante do povo, que como tal deve primar que o encontro possa discutir as necessidades dos estudantes da classe trabalhadora, o que passa pelas discussões também acerca da assistência estudantil.

Em 2010 ocorrerão por todo o Brasil encontros nacionais de estudantes de diversos cursos, conhecidos como encontro de área, esses encontros são extremamente importantes na perspectiva de organizar os estudantes por suas problemáticas de curso. Muito mais do que discutir questões acadêmicas, o encontro tem como objetivo organizar os estudantes por suas especificidades de curso, mas também debater a importância do seu curso para a sociedade.

Mas infelizmente a grande maioria dos encontros por área, refletindo a triste realidade do movimento estudantil nacional, acabou por se tornar grandes espaços festivos completamente despolitizados. Tudo o que quer uma juventude atrelada ao governo (UNE). Essa entidade já recebeu mais de 10 milhões do governo Lula/PT, e cumpre o vergonhoso papel de defensor das reformas neoliberais do governo dentro do Movimento Estudantil, servindo como uma verdadeira correia de transmissão dos interesses do governo e contra os estudantes.

É necessário que o ENEPe seja um encontro que vise armar os estudantes de pedagogia para todas as problemáticas acima mencionados, combatendo as reformas neoliberais do governo Lula/PT para a educação, bem como a formação de um pedagogo comprometido com a classe trabalhadora e auxiliar em toda a organização da luta de classes. Organizando encontros em caráter de congresso, que possam ser deliberativos a partir da base e que tenham espaços democráticos de discussão como defesa de teses.

Construir uma Plenária de estudantes combativos

Nós da Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC), entendemos que no capitalismo a sociedade é dividida em classes, entre exploradores e explorados, trabalhadores e burgueses. Entendemos que nessa sociedade não há meio termo. E os estudantes que são uma fração da classe trabalhadora, como os estudantes de pedagogia, devem defender os interesses da classe trabalhadora, estando com ela nas lutas e por suas reivindicações históricas. O estudantado de pedagogia tem assim um compromisso com a luta de classes.

Nesse sentido convocamos a todos os estudantes de pedagogia, comprometidos com a causa do povo, a participarem de uma plenária da RECC no ENEPe, para organizamos os estudantes combativos em um pólo que possa lutar contra a influência do governismo da UNE no movimento estudantil, suas reformas neoliberais, bem como a influência do para-governismo (PSOL/PSTU) que destrói a luta da classe com uma política eleitoreira e reformista.

POR UMA EDUCAÇÃO A SERVIÇO DA CLASSE TRABALHADORA! POR UMA PEDAGOGIA QUE SIRVA AO POVO!

CONSTRUIR NA PEDAGOGIA UM MOVIMENTO ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVO PELA BASE!

ROMPER COM O GOVERNISMO E COM O OPORTUNISMO!

ABAIXO A UNE TRAIDORA DOS ESTUDANTES!

VIVA A LUTA DOS ESTUDANTES E TRABALHADORES!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Reunião da RECC-CE

Convocamos todos os militantes que atuam no movimento estudantil do Ceará, sob uma política classista, combativa e anti-governista, para participar da reunião da Rede Estudantil Classista e Combativa - RECC/CE e estarem construindo a luta em suas bases (escolas e universidades).

REUNIÃO DA RECC-CE Sábado (26/06), às 09hUECE - Campus do Itapery (ponto de encontro no "Elefante Branco")

Propostas de pauta:
1- Avaliação CONCLAT/ Plenária Nacional da RECC em Santos;
2- Greve dos Rodoviários e Passe-Livre
3- Novo ENEM
4- Outros...
Divulguem, chamem os estudantes de sua escola/universidade !

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Comunicado Nacional da RECC Nº02 - Manifesto aos Congressos da Conlutas e Conclat

Em Defesa de uma Central de Classe
O exemplo que não deve ser seguido: degeneração da CUT
O inicio do processo de reorganização do movimento sindical no Brasil, no final dos anos 70, contribuiu consideravelmente na transição da ditadura civil-militar para o regime democrático burguês. A expectativa de que o modelo sindical varguista-estatista também iria ser modificado, a propósito mesmo da CUT que em seus primeiros congressos travou luta contra esse modelo, fracassou. O estatismo sindical, com suas bases assentadas na unicidade e no imposto sindical, que garantem a tutela dos sindicatos pela justiça burguesa, entretanto, sobreviveram.
O abandono da luta da CUT contra a estrutura sindical gerou por conseqüência sua acomodação a esse modelo, virando uma sucursal do Estado, em um processo de cooptação progressiva, razão de sua degeneração. A adoção posterior às teses do sindicalismo propositivo, em meados de 1990, reforçam esse processo de submissão estatal, transformando-a nessa central ultra-pelega chapa branca dentro do meio sindical.
O PT na presidência e a transição pacífica dos movimentos sociais aos interesses do governo e da burguesia
A vitória do PT nas eleições presidenciais de 2002 e 2006 evidencia o aprofundamento desta linha, gerando efeitos objetivos e subjetivos na luta de classes no Brasil. Parte do movimento sindical-popular, como CUT, UNE e MST, que historicamente foram hegemonizados pelo reformismo de esquerda do PT/PCdoB, foram cooptado para a esfera dos interesses do governo, se tornando assim o braço do governo no movimento sindical-popular, atuando como correia de transmissão dos interesses governistas nas organizações dos trabalhadores.
As organizações citadas abandonaram a defesa da classe trabalhadora em nome da colaboração de classes, do “pacto social” com o governo Lula/PT e o capitalismo, facilitando a implantação das reformas neoliberais tentadas anteriormente pelo governo FHC, uma vez que neutralizaram a resistência ideológica e organizativa dos trabalhadores. A CUT e UNE são os exemplos concretos da transição pacífica dos movimentos sociais para a esfera do governo a partir da administração Lula/PT, onde a aliança da burocracia sindical-popular com o governo e a burguesia subjugam a força coletiva do proletariado a partir do desmonte ideológico de suas reivindicações materiais e do desmantelamento de suas organizações, degeneradas em corporativismo, reformismo e burocratismo. Essa degeneração é fruto do modelo de sindicalismo propositivo adotado pela CUT, um sindicalismo que foi incapaz de romper com o modelo varguista-estatista de atrelamento institucional das organizações dos trabalhadores ao governo.
O papel histórico desempenhado pelo reformismo do PT/PCdoB/CUT foi garantir a transição pacífica do movimento sindical-popular para os interesses do Estado e do capitalismo, seu papel foi de contenção da luta de classes e de colaboração com o governo e a burguesia.
A Conlutas enquanto instrumento anti-governista
A fundação da CONLUTAS, em 2006, se deu, então, sob o auge do ciclo reformista, ou seja, quando as organizações de classe se subordinam ao poder central do país, obtido via Lula/PT, confiando a este o papel de realizar as mudanças sociais e econômicas. Este governismo paralisou CUT e UNE, que não encaminhavam as principais lutas dos trabalhadores e estudantes.
Assim, a criação da CONLUTAS apontava, acertadamente, para duas rupturas fundamentais no movimento sindical-popular-estudantil: 1)se desligar das organizações governistas colocando a própria CONLUTAS com alternativa à classe trabalhadora, e; 2)apontava, através de sua construção como uma central de classe, para uma possível ruptura de concepção de movimento corporativista e social-reformista, quando aglutinava em seu interior movimentos populares, de trabalhadores desempregados e informais, camponeses, estudantes e de minorias. Ou seja, estavam dadas condições positivas para o desenvolvimento estratégico das lutas de nossa classe.
Os ziguezagues na CONLUTAS: a política de liquidação pelo setor majoritário
No entanto, as orientações dadas pelo setor majoritário na CONLUTAS desviavam inclusive das resoluções do 1º CONAT. Já no segundo semestre de 2006, este setor, no Rio de Janeiro, articulou duas alianças com o PCdoB: na eleição do Sindicato dos Metalúrgicos da Região Sul Fluminense, apoiando a chapa 3, formada pela CSC; e na eleição do Sintergia, com a chapa 2, também contendo a CSC (braço sindical do PCdoB).
Não somente aí, mas a unidade com setores governistas e paragovernistas pode ser vista em várias campanhas e atos articulados conjuntamente, como na Frente de Luta Contra as Reformas Neoliberais, Ato Pela Redução da Taxa de Juros, A Vale é Nossa, Comitê Pela Reestatização da Embraer, Pré-Sal em que ser Nosso etc. Os efeitos dessa unidade para a CONLUTAS foram a estagnação da construção da própria Central, a perda do trabalho de base e consequentemente do protagonismo das lutas.
A adequação da CONLUTAS à Lei 11.648/2008 mostrou que esta dava um mais um passo atrás. Tal lei amplia a estruturação sindical tutelada pelo estado, favorecendo a formação de sindicatos sem base, financiando-a com o imposto sindical etc. O não encaminhamento de uma luta séria contra este processo reforçou a concepção oficialista.
Os principais erros táticos e políticos na CONLUTAS foram então: 1)estabelecer unidade com os governistas; 2)fusão com os paragovernistas da INTERSINDICAL,e; 3)aceitação e enquadramento da CONLUTAS à estrutura do sindicalismo de Estado.
Da liquidação à reorganização
Diante da difícil situação em que se encontra o movimento estudantil, sindical e popular, afundado em práticas legalistas e colaboracionistas, alguns estudantes reunidos durante o Congresso Nacional de Estudantes - CNE, realizado no Rio de Janeiro de 11 a 14 de junho de 2009, organizaram paralelamente a plenária do Movimento Estudantil Classista e Combativo, composta por delegados e observadores. Buscando um eixo comum de atuação, denunciamos a política do campo majoritário naquele encontro, composto pelo PSTU e correntes do PSOL, onde o primeiro defendia a fundação de uma entidade estudantil sem romper efetivamente com a UNE, e o segundo sendo justamente este elo que ainda permanece nesta entidade governista.
A proposta dos estudantes combativos vem se materializando através da RECC - Rede Estudantil Classista e Combativa, que aglutina estudantes de diferentes partes do país, através da atuação nas entidades de base e oposições, tendo por base o CLASSISMO, A AÇÃO DIRETA, DEMOCRACIA DE BASE, A LUTA ANTI-GOVERNISTA E ANTI-REFORMISTA. Opomos-nos ao parlamentarismo estudantil, que se dá na manutenção de cargos burocráticos através de acordos de cúpulas, seja em entidades do movimento estudantil ou nos conselhos universitários, levando o movimento a seguidas derrotas, pois deixa a organização dos estudantes para a luta direta em segundo plano, canalizando as mobilizações para eleições ou negociação com a burocracia acadêmica.
A situação atual de liquidação da CONLUTAS, via fusão com a Intersindical, expressa o abandono da construção de uma Central de Classe. A nova central será, então, uma central estritamente sindical, pois ainda que comporte o movimento estudantil e popular em seu interior, esta participação será simbólica, como já apontou o ocorrido no 1º Congresso da CONLUTAS em 2008 quando reduziu a participação do ME.
A caracterização policlassista relegada ao movimento estudantil nega, por um lado, a importante perspectiva classista para esse setor e permite, por outro, o desenvolvimento de políticas de colaboração com a burguesia no seio do movimento. É óbvio que a condição de estudante não se confunde com a condição de classe. Mas a grande massa dos estudantes brasileiros é de trabalhadores. E se faz necessário construir um movimento estudantil classista e combativo. A reprodução do acumulo de capital também se dá nas escolas e lá devem ser também combatidas.
Entendemos que os estudantes são uma fração da classe e devemos ter uma linha clara de atuação para combater não só o avanço neoliberal, mas as variantes desenvolvimentistas da expansão do capital. O movimento estudantil deve se associar à luta pela defesa dos interesses econômicos e políticos do conjunto da classe trabalhadora, interesses imediatos e históricos. E que compreenda que existem tarefas de organização, de luta contra a burocracia e tutela estatal que são pré-condições para a formação de um verdadeiro poder dos trabalhadores. Isso é possível se nos lançarmos à luta como filhos e membros da classe trabalhadora, fortalecendo uma verdadeira retaguarda para o movimento sindical-popular, para não se perder no discurso abstrato de “união entre estudantes e trabalhadores”. Temos que criar as condições para que isso seja uma realidade. Buscamos este vínculo organizativo e ideológico atravez de uma Central de Classe.
Construir uma Plenária de Movimentos de Oposição
Convocamos os estudantes presentes nesse congresso a participar da Reunião da RECC, discutindo as questões levantadas e apontando intervenções práticas para garantir a construção de um movimento classista estudantil, popular e sindical organizados conjuntamente em uma central de classe.
No mesmo sentido propomos também a participação dos setores combativos do movimento estudantil, sindical e polpular em uma Plenária de Movimentos de Oposição que tenha como eixos: 1) lutar contra o neoliberalismo e as políticas de reestruturação produtiva no setor público e privado e ao caráter desenvolvimentista que sempre acentua o poder dos monopólios e a exploração; 2) articular as lutas reivindicativas sindicais, estudantis e populares, integrando também os setores integrados e marginalizados da classe trabalhadora; 3) marcar uma posição classista e internacionalista, o que significa desenvolver uma pauta de solidariedade ativa as causas dos trabalhadores em todo o mundo; 4) lutar pela autonomia da organização sindical, popular e estudantil, combatendo a burocratização e o centralismo desorganizador.
Pela construção do sindicalismo classista e revolucionário!
Por uma central de classe!

domingo, 16 de maio de 2010

Em Defesa de uma Central de Classe (Tese ao CONCLAT)

OBS: Os dias 3 e 4, 5 e 6, marcarão uma data importante na luta de classes no Brasil. Durante esses dias serão realizados respectivamente o II Congresso da CONLUTAS (Coordenação Nacional de Lutas) e o CONCLAT (Congresso da Classe Trabalhadora), onde serão definidos os próximos passos do movimento sindical-popular. Nesse sentido a Oposição Classista e Combativa ao DCE-UFC assina a tese Em Defesa de uma Central de Classe, que junto com os demais setores combativos irá combater a linha liquidacionaista do para-governismo do PSOL e PSTU.
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Em defesa de uma Central de Classe

Introdução
O objetivo desta tese é apresentar tanto uma reflexão crítica sobre a política da nossa central (no período 2006-2010), quanto propostas concretas de construção de um sindicalismo classista e combativo.
Para isso faremos duas análises distintas: uma da atual etapa e crise do capitalismo mundial; outra da evolução do movimento de luta dos trabalhadores no Brasil e suas contradições.
Essas análises encontram-se profundamente relacionadas. Na realidade, as transformações do capitalismo, e agora sua crise, colocam diferentes tarefas aos trabalhadores: tarefas de resistência imediata, e tarefas históricas da luta pelo socialismo. Porém, tais tarefas não têm sido assumidas concretamente.
Isso se dá porque, a nossa central, que deveria ter assumido tais tarefas, não o fez. Pelo menos não da maneira que deveria. A tática política prevaleceu sobre a estratégia. Os acordos acelerados de cúpula prevaleceram sobre um processo de construção de base.
Chegamos às vésperas do nosso terceiro congresso, com uma discussão ínfima nas bases. O próprio congresso da CONLUTAS foi pensado como apenas um apêndice do congresso da “Nova Central”. Os critérios de participação da base tornaram o congresso mais restritivo e, conseqüentemente, com um número de delegados menor.
Isso é resultado de uma política taticista e frentista que vem se impondo no interior da nossa central. A “fusão”, ao contrário do que vem sendo alardeado, não significa nada se não fundir forças reais na luta de classes. E o que a experiência dos dois últimos anos mostrou é que, na luta de classes, a unidade com tal setor (a Intersindical) tem se mostrado precária. Assim, está se atropelando um processo que deveria surgir da unidade concreta da luta e está se criando uma organização antes da luta.
Isso apresenta uma série de riscos. Significa que liquidaremos uma central, que sequer consolidou seu projeto e que nasceu das lutas efetivas do período 2003-2004, em favor de uma entidade que nasce de acordos de cúpula, pouca discussão na base e uma unidade muito precária na luta de classes. E ainda, que exige o sacrifício de um dos elementos diferenciais da nossa central: o seu caráter. E quem exige isso é exatamente uma organização que sequer é da mesma natureza. É mais uma composição de correntes de um partido político (PSOL) do que uma organização sindical e popular.
Nesse sentido, apresentamos esta tese para defender uma política classista e combativa. Somos contrários à “fusão” da nossa central tal como está se dando. Não acreditamos em organizações que surjam de acordos de cima. Somos contrários à mudança e/ou a descaracterização da nossa central. Somos favoráveis a uma central de classe (que agrupe o proletariado urbano, o campesinato, os trabalhadores precarizados e os estudantes). Somos contrários ao taticismo e ao frentismo. Somos defensores de que a nossa central tenha uma estratégia política de confrontação. Uma estratégia de construção pela base.
Os argumentos abaixo defendem e justificam teoricamente nossas posições. E elas estão assentadas na análise das condições objetivas e subjetivas do mundo contemporâneo.

1 – Estrutura e dinâmica do capitalismo contemporâneo: a conjuntura internacional.

É preciso fazer uma discussão teórica preliminar sobre a atual configuração do capitalismo. E essa configuração é fruto da transformação de um modelo capitalista anterior, provocada pela sua crise interna e pela resistência da classe trabalhadora.
Podemos dizer que o capitalismo contemporâneo é fruto da evolução e transformação do capitalismo monopolista de Estado. Esse modelo de capitalismo se estruturou a partir da década de 1920, no centro, e depois na periferia, como a América Latina. O capitalismo monopolista de Estado era uma inovação histórica, ele apresentava de forma sistemática ao Estado a tarefa de coordenar e intervir diretamente na economia capitalista. O Estado seria o grande engenheiro social responsável por viabilizar e tutelar a acumulação de capital.
Nesse campo, a burguesia internacional percebeu que era preciso, para desenvolver o capitalismo, mudar sua estratégia, era preciso fazer concessões à classe trabalhadora e integrar materialmente os trabalhadores aos interesses da burguesia. Para isso, foram tomadas medidas de reformas sociais do Estado e das relações de trabalho. O Estado criou as negociações coletivas para regular a oferta de trabalho e a massa salarial, de modo a diminuir as crises de superprodução. Criou também os sistemas previdenciários e formas de salários indiretos (benefícios educacionais, de saúde, incorporados sob a forma dinheiro ou não).
Depois da segunda guerra mundial, o capitalismo se expandiu aceleradamente. Os trabalhadores europeus foram integrados ao mercado consumidor e ao Estado, através dos grandes partidos e sindicatos de massa. O capitalismo, com sua reestruturação, procurou afastar ao mesmo tempo as ameaças da crise e da revolução socialista nos países capitalistas centrais.
A questão é que o financiamento desse modelo, baseado em grandes gastos públicos e produção crescente, era um problema. Nesse sentido, o capitalismo encontrou uma primeira solução: transferir os custos para e acentuar a exploração na periferia. Assim, as grandes empresas e o capital estrangeiro buscaram países como Brasil e demais países da América Latina para a implantação de suas plantas industriais.
Deste modo, começa a se desenvolver também na periferia a industrialização. E com ela o próprio capitalismo monopolista de Estado. Mas, ao contrário do que acontecera no centro, na periferia não deveria existir espaço para concessões aos trabalhadores. O lucro era máximo, o salário deveria ser colocado na média mínima possível e os direitos reduzidos.
As burguesias que tentaram implementar políticas nacionalistas na América Latina sempre tiveram de oscilar entre o discurso de defesa e proteção dos trabalhadores e sua lealdade ao capital/imperialismo. Isso aconteceu, por exemplo, com Getúlio Vargas no Brasil e o Juan Peron na Argentina. A ilusão de um capitalismo nacional aos moldes europeus se desfez sob as ditaduras.
O capitalismo de Estado na América Latina foi desenvolvimentista e o desenvolvimentismo foi ou incapaz de levar adiante as reformas sociais ou contra-revolucionário e militarista. As experiências no Brasil com João Gulart e no Chile com Salvador Allende comprovam isso. As ditaduras com programas desenvolvimentistas, de expansão industrial, associadas à repressão e desigualdade social também.
Mas na década de 1970 o capitalismo entrou em crise, apesar de tentar transferir os custos do seu modelo de desenvolvimento para a periferia. As revoluções anti-coloniais quebraram alguns elos da reprodução imperialista na Ásia, fazendo com que a transferência da desigualdade não fosse mais realizada da maneira que era necessário. A crise do petróleo em 1973 precipitou uma nova reestruturação global do capitalismo.
Os custos com os gastos sociais passaram a ser inaceitáveis para a burguesia. Nesse sentido foram desenvolvidas duas grandes estratégias, uma macro e outra microeconômica.
A macro foi o neoliberalismo. Era preciso reformar o Estado, transferindo os setores estratégicos de produção para a iniciativa privada. Eliminando ou diminuindo o peso dos seus setores “sociais” (especialmente, a previdência).
A microeconômica foi o toyotismo. Surgido no Japão, era uma nova forma de administrar a empresa. Ele é baseado em três eixos: a) precarizar o trabalho, aumentando a intensidade e o número de funções de um trabalhador; b) criar formas de “colaboração” e participação dos trabalhadores na empresa, transformando os sindicatos por exemplo em “escolas” de diretores de empresa; c) repressão, através de demissões e perseguição cotidiana.
Essa nova reestruturação teve um profundo impacto no mundo. Aumentou o número de pobres, destruiu vários sindicatos e mesmo categorias profissionais. No mundo e no Brasil, esse modelo se espalhou especialmente a partir dos anos 1980 e 1990. Ele provocou mudanças na estrutura de classes e políticas:
a) aumentou o peso dos trabalhadores precarizados e marginalizados (que nos países periféricos como o Brasil, já era grande anteriormente); atualmente, o número de desempregados e trabalhadores na informalidade supera os na formalidade;
b) difundiu uma onda de reformas neoliberais em governos pelo mundo, que cortaram os já reduzidos direitos trabalhistas e previdenciários existentes;
c) aumentou a exploração e comprimiu os salários em setores que antes eram protegidos (como determinadas categorias do serviço público);
d) aumentou a força dos bancos e do capital financeiro que passaram a comandar as políticas econômicas em escala global.
e) acentuou a concentração de capitais, formando-se ultra-monopólios em escala global, as grandes corporações.
Fazendo um balanço histórico, podemos ver que o capitalismo monopolista de Estado deu lugar um capitalismo ultra-mopolista e neoliberal. Essa era a situação até 2008, com a eclosão da crise mundial. E a crise só vai mostrar como o Estado, mais uma vez, é acionado para salvar o capital e como ele faz isso atacando os trabalhadores.
E a crise do capital vai sobrepor-se a uma crise da organização dos próprios trabalhadores. Crise esta que é fruto da história do capitalismo e da relação dos trabalhadores com tal processo. Nos dois modelos de desenvolvimento e acumulação capitalista, houve movimentos de cooptação dos sindicatos e trabalhadores. O estatismo se desenvolveu como força de repressão e cooptação dos sindicatos, e assim ainda permanece. E o toytismo veio para completar a tarefa por outras vias, dando uma feição “participativa” e “democrática” no local de trabalho a essa dominação.
Assim, o capital não somente se reestruturou, mas dirigiu a reestruturação da organização dos trabalhadores. E isso continua acontecendo. Ao analisar então a conjuntura atual poderemos ver como isso se dá.

2. Conjuntura Nacional: cenários estratégicos da luta de classes no Brasil e perspectivas para os próximos anos

O ano de 2010 apresenta uma nova conjuntura. As condições econômicas e políticas com as quais Lula encerra seu mandato presidencial são completamente diferentes de quando o PT assumiu presidência pela primeira vez.
Naquela ocasião, a economia brasileira ainda estava presa a um ciclo de estagnação. A economia mundial não tinha adentrado o ciclo expansivo centrado na bolha imobiliária gerada nos EUA. As reformas neoliberais estratégicas não haviam sido plenamente concluídas.
A conjuntura do primeiro mandato e os compromissos assumidos pelo PT com o Capital implicaram numa série de medidas, tomadas pelo Governo, claramente continuístas em relação ao período FHC. A reforma da previdência de 2003 foi o grande marco dessa conjuntura. Isso explicitou o caráter de classe do PT e de sua política. Mostrou também a subordinação das direções das centrais sindicais e grandes sindicatos à burguesia e ao governo.
Mas a conjuntura atual é completamente diferente. O ciclo econômico internacional favorável do período 2004-2008, e mesmo a crise econômica de 2008, modificaram substancialmente a situação. E o Governo Lula se beneficiou de duas maneiras.
Primeiro do ciclo econômico favorável iniciado em 2004, conseguindo aumentar o crescimento econômico do país (o que era usado para acobertar os ataques aos trabalhadores). Depois, da crise econômica que, ao contrário do que as análises catastrofistas afirmavam, não teve um impacto direto na economia brasileira. E mais, criou uma conjuntura favorável à revitalização da ala “desenvolvimentista” do bloco governista.
O quadro atual indica uma combinação de recessão e desemprego em escala global. As reações diversificadas na Europa, França e Grécia como exemplo, indicam que há um processo crescente de mobilização e radicalização. A recessão se combina com aumento do desemprego que cresce nas diversas regiões do mundo. Segundo a previsão da OIT serão 50 milhões a mais de desempregados no mundo chegando a um total de 230 milhões. No caso do Brasil, o IBGE indicou um crescimento de 8,2% para 8,5% nas regiões metropolitanas.
O problema é interpretar o que se passa por trás dos supostos efeitos destrutivos da crise, e também o tipo de decisão empresarial que leva ao aumento do desemprego. A Volkswagen cortou os empregos temporários, que eram de 16.500 no mundo no final de 2008. A montadora americana General Motors (GM) demitiu dez mil empregados em 2009 em todo o mundo, reduzindo sua força de trabalho em cerca de 14%.
No Brasil, o caso das demissões da EMBRAER é ainda mais emblemático. Apesar de distribuir 50 milhões para seus diretores em salários e participação nos lucros, manteve as demissões de 4.300 trabalhadores. Fica nítido que, pelo menos na sua fase atual, o desemprego gerado pela crise não é fruto dos impasses da “superprodução” sobre a economia capitalista, mas sim resultante da estratégia de adaptação toyotista, através da demissão dos trabalhadores temporários e precarizados.
No Brasil, a concentração de capital irá se dar principalmente nas áreas mais afetadas pela crise econômica: financeira, construção civil, agronegócio e comércio varejista. Isso significa um fortalecimento de grandes empresas e do capital monopolista nesses setores. A fusão do Itaú com o Unibanco é um exemplo disso, bem como a fusão dos grupos varejistas Casas Bahia e Pão de Açúcar.
No mundo, as fusões e semi-estatizações de grandes bancos e fusões e aquisições das grandes montadoras, apenas confirma o processo de concentração de capital, que caminha cada vez mais rápido no sentido da formação de ultra-monopólios. Esse é o principal aspecto da crise: nos setores automotivo e bancário, avança um processo ultra-monopolista de concentração de capital. Ao mesmo tempo, consolida-se o mecanismo da precarização (por meio dos contratos temporários e sem direitos trabalhistas) como mecanismo estratégico do capital.
Por isso, uma análise materialista e dialética precisa observar as relações de classes e os movimentos das forças econômicas que servem de base para as políticas do Governo Lula. E ao mesmo tempo, ver como o Governo Lula e o Bloco Reformista PT/PCdoB tenta incidir sobre tais condições, no sentido de favorecer a acumulação de capital.
O novo cenário econômico internacional é favorável a um intervencionismo estatal relativo, às políticas fiscais expansivas (aumento dos gastos públicos) e ao maior controle do Estado sobre o capital financeiro. Esse cenário foi perfeito para o PT e o PCdoB fortalecerem a tese da “disputa” de linhas dentro do Governo, entre setores neoliberais e setores desenvolvimentistas. A crise seria a ocasião para que esse setor supostamente “progressista” avançasse e ganhasse terreno.
O PT e o PCdoB estão conseguindo neutralizar a oposição de direita no congresso e manter o apoio do empresariado. Ao mesmo tempo revitalizam a força da CUT e CTB (antiga CSC) no movimento de massas depois da breve crise de 2003-2005. A crise foi providencial para o PT, o Governo Lula e os setores governistas do movimento. Hoje eles se apresentam com sua legitimidade renovada: são os setores que tem um programa de reformas e de fortalecimento do Estado para combater à crise, protegendo supostamente os interesses dos “trabalhadores e o desenvolvimento do país”.
Assim, os cenários da luta de classes nesse ano de eleições presidenciais são extremamente favoráveis às correntes estatistas e reformistas do movimento, especialmente o PT e o PCdoB. Mas esse é um cenário apenas.
Certas mudanças nas condições econômicas internacionais podem fazer cair por terra esse edifício aparentemente sólido. Em primeiro lugar, a evolução da crise econômica mundial é um elemento fundamental. Caso a recessão econômica nos países centrais não seja superada (e vários elementos indicam que não será), e caso alguma outra região (no caso, a Ásia) não consiga formar alguma outra bolha especulativa para fazer girar o processo de acumulação em escala mundial, dificilmente os instrumentos “expansivos” e o poder de um futuro Governo Dilma Roussef para combater os efeitos da crise irão se manter.
Ou seja, um prolongamento da crise no centro deve implicar que ela alcance os principais países da América Latina, arrastando-os para a crise e aprofundando-a em escala global. Isso pode provocar então novas mudanças no cenário político nacional. E isso pode provocar também uma crise do próprio governo e das forças políticas e sindicais dirigente no país.
Num cenário como esse, o bloco governista PT/PCdoB e CUT/CTB irão, assim, ver-se diante de um problema: sustentar o governo Dilma Roussef, só que aí, não mais com o discurso e políticas floreadas de “desenvolvimentistas e progressistas”, mas sim coordenando um novo ataque contra os trabalhadores e uma nova reestruturação do capital no Brasil.
As perspectivas de médio prazo indicariam (caso a crise econômica se confirme e os demais fatores políticos e econômicos se mantenham inalterados) que um futuro e provável Governo Dilma terá condições menos favoráveis que as atuais. E terá de assumir o confronto contra os interesses dos trabalhadores, reduzindo o déficit fiscal que tenderá a crescer e protegendo os interesses dos latifundiários e do próprio capital associado. Mas a questão é que isso pode acontecer em um ano ou em quatro, cinco, dependendo da evolução dos fatores econômicos e políticos.
Temos então dois cenários distintos dentro do atual contexto de crise, o de curto prazo e o de médio prazo. No curto prazo o setor reformista e governista (PT e PCdoB) sairá fortalecido na conjuntura de crise. No médio prazo, é possível que mais uma vez o bloco governista tenha que coordenar um ataque à classe trabalhadora (como foi na ocasião das reformas de 2003). E essa seria uma ocasião para a criação de uma alternativa nacional de sindicalismo, um sindicalismo de tipo revolucionário de massas.

3. O projeto de construção de uma central de classe: as contradições em meio à reestruturação do capitalismo (Concepção, estrutura, estratégia e programa).

3.1 A degeneração da CUT e das centrais oficialistas/condições objetivas e subjetivas:

As reformas neoliberais implementadas no início do Governo Lula desencadearam um processo de crise de legitimidade da CUT e do PT. A eliminação dos direitos o ataque contra os sindicatos e trabalhadores, especialmente do serviço público ajudaram a desmascarar o caráter de classe do Governo Lula para parcelas significativas de trabalhadores. Foi criado um sentimento de indignação frente à “traição” que se manifestava.
Elementos concretos mostravam que o Governo estava implementando reformas neoliberais que contrariavam parte do seu discurso anterior. Ficou claro que a CUT estava cumprindo o papel de correia de transmissão do Governo Lula e do Estado. Que não representava mais os trabalhadores e nem encaminharia suas lutas. Estavam dadas as condições objetivas e subjetivas para o início de um processo de ruptura com o peleguismo da CUT e demais centrais.
As organizações de luta do proletariado brasileiro, criadas nos anos 1980, degeneraram. A CUT (Central Única dos Trabalhadores), criada para servir como arma de luta pelos direitos dos trabalhadores, transformou-se na prática, num instrumento da burguesia. Para formular hoje uma alternativa de luta popular-sindical é preciso refletir criticamente sobre as causas desta degeneração.
Para entender então como a CUT degenerou devemos então correlacionar alguns fatores: 1) Um fator fundamental na degeneração da CUT foi sua acomodação às velhas estruturas sindicais do corporativismo; 2) as contradições internas da CUT, que transformam a central num órgão burocratizado onde as decisões eram tomadas de cima para baixo; 3) o desenvolvimento de uma força política hegemônica (a Articulação do PT), de caráter reformista, através da relação “Partido-Sindicato”, em que as tarefas estratégicas (conquistar o Estado) eram atribuídas ao PT; 4) outro foi sua adaptação aos padrões toyotistas, o sindicalismo de resultados fragmentado por empresa e conciliador.
Assim, a degeneração da CUT é parte de um processo histórico mais geral. A acomodação e domesticação dos trabalhadores pelo capitalismo. E isso se deu pelo desenvolvimento de um modelo de sindicalismo social-reformista. Ele é legalista, corporativista e acredita que somente através da conquista do Estado os trabalhadores podem melhorar sua condição econômica e social. Ele é contra-revolucionário.
Em pouco tempo, o “eleitoralismo” se impôs, e a critica da estrutura sindical e seu modelo de movimento foi sacrificada em favor dos interesses do Partido (PT). Isto porque para que o PT ganhasse a confiança da burguesia foi preciso frear as lutas proletárias (especialmente as greves). E esta estrutura sindical favorece exatamente a paralisação das lutas do proletariado.
Isso significa que não basta fazer a critica da cooptação pelo neoliberalismo. É preciso combater as bases do modelo de sindicalismo social-reformista que levou a CUT à degeneração. E isso exige uma mudança de concepção de organização, de estratégia e de tática política.

3.2 A formação da CONLUTAS: os ziguezagues políticos e erros táticos.

Em 2006 a CONLUTAS foi fundada. Naquela conjuntura, havia clareza da degeneração da CUT. Mas nem todos os setores optaram pela ruptura. Eles ainda tinham (e tem) vínculos ideológicos e organizativos com o próprio governismo. Isso se expressou na duplicidade de posições ante a CUT. Um setor não defendia a ruptura com a CUT num primeiro momento e sempre foi ambíguo nessa tarefa e constituiu a Intersindical.
A princípio a CONLUTAS expressava disposição de cisão de amplos setores do movimento sindical com o governismo. A CONLUTAS materializava a oposição entre governismo (CUT, Centrais oficialistas) X anti-governismo no movimento. Essa contradição poderia dar espaço para o re-surgimento de um sindicalismo classista e revolucionário.
O projeto uma central que unificasse as lutas dos trabalhadores (formais e informais, empregados e desempregados, os movimentos populares do campo e da cidade e o movimento estudantil) significava não só uma ruptura necessária com o governismo. Poderia representar ainda ruptura com o modelo de sindicalismo social-reformista e corporativista.
Infelizmente, a política do atual campo dirigente da CONLUTAS é equivocada. Sua tática e estratégia impedem que a CONLUTAS assuma as suas tarefas imediatas e históricas. Isso foi o resultado de uma concepção estratégica equivocada.
A estratégia desse setor dirigente da CONLUTAS é a construção de uma Frente de Esquerda para “conquistar o Estado” e mudar a política econômica. Essa estratégia possibilitou uma série de táticas que na prática desviam a CONLUTAS das suas tarefas históricas. As principais táticas foram: 1) a política de unidade de ação com os governistas para lutar contra a crise; 2) a proposta de unificação com a chamada “Intersindical”; 3) a acomodação aos métodos de luta e formas de organização do sindicalismo social-reformista e corporativista.
Ou seja, o setor de oposição aglutinado na CONLUTAS tem suas contradições. E elas começaram a se manifestar no período 2006-2008 com as equivocadas alianças nas eleições sindicais de categorias importantes.
As políticas promovidas em várias categorias e sindicatos nos anos de 2006-2007 (como foi o caso dos trabalhadores dos Correios/RJ, Sintergia e metalúrgicos de Volta Redonda/RJ) realizavam o contrário daquilo que o CONAT havia colocado como objetivo: romper com a CUT. O setor majoritário encaminhava alianças com setores governistas (Articulação Sindical/PT e Corrente Sindical Classista/PCdoB).
A política de unidade com os governistas tornou-se a política hegemônica logo em 2007, quando a CONLUTAS se uniu com a CUT, a CMS, a Intersindical, entre outros, na formação da “Frente de Luta Contras as Reformas Neoliberais”. Nessa frente os governistas assumiram a dianteira das lutas no segundo Governo Lula, iniciando a recuperação da legitimidade e do espaço perdidos entre 2003 e 2006. Os governistas conseguiram reeditar a tese de que o Governo Lula está em disputa.
Para a CONLUTAS o efeito da política de unidade com os governistas foi outro: provocou uma estagnação da Central, uma perda do trabalho de base e consequentemente do protagonismo das lutas.
O setor dirigente tentou justificar essa política equivocada afirmando que poderia estaria explorando as contradições do campo governista, que estaria fazendo a disputa da base dos governistas e que essa seria apenas uma tática de unidade de ação. Entretanto, tais justificativas se mostraram inconsistentes. Primeiro, foram os governistas que exploraram as contradições do campo majoritário da CONLUTAS e conseguiram reconstrução da sua legitimidade até então perdida. Em segundo lugar, a unidade se deu pela cúpula, portanto, não ocorreu disputa das bases. Basta ver que em certas categorias e sindicatos importantes, como o SINTRASEF/RJ, SEPE/RJ e FASUBRA, foi encaminhada a saída da CUT mas nunca a construção da CONLUTAS. E no caso do SINTRASEF ocorreu o melancólico retorno à CUT.
Por fim, a eclosão da crise econômica mundial em 2008 transformou o que antes era uma política aberta de aliança com os governistas. A crise econômica virou pretexto para uma reconciliação não somente com a CUT, mas com todas as centrais pelegas (Força Sindical, CTB). Esse chamado implica numa completa abdicação da política de ruptura com o governismo, o corporativismo e o legalismo.
A outra tática do campo dirigente da CONLUTAS foi conclamar a Intersindical para um processo de fusão. Esse chamado à unidade era esfacelado pela política da Intersindical em diversas categorias, como no funcionalismo publico federal, em que atuava ao lado dos governistas, defendia acordos rebaixados, recusava a greve e quando a fazia era para reduzir a luta ao economicismo e à fragmentação. Isso continua acontecendo agora recentemente. Em 2009 nas das eleições dos bancários/RJ a Intersindical constituiu uma chapa com a CUT e a CTB.
O primeiro aspecto a ser criticado nessa tática é noção de “reorganização” do movimento que vem sendo utilizado pelo campo majoritário. A idéia de reorganizar deveria ser sinônimo de ruptura com o governismo e de reconstrução pela base de um movimento nacional de oposição. Mas não é isso que está sendo feito.
Os debates pela base foram abandonados. Por outro lado, a própria Intersindical rachou no ano passado, o grupo que está no processo de fusão é dominado por correntes do PSOL (APS, C-SOL e Enlace) e são essas correntes que assinam seus documentos e mandam seus representantes para os debates. Ou seja, a representação é por corrente partidária, não pelas entidades de representação dos trabalhadores.
Nesse processo um dos principais impasses era o caráter da CONLUTAS e o caráter da “nova central”. Os setores da Intersindical não aceitam uma central de classe. Querem uma central exclusivamente sindical. Se a CONLUTAS representou um avanço nas lutas do proletariado por ser uma central do conjunto da classe trabalhadora, a “nova central” representará um retrocesso, pois, discutir se os estudantes e os movimentos sociais e populares podem ou não participar da “nova central” já é em si uma forma de exclusão desses setores da classe trabalhadora.
É importante ressaltar o caráter idealista e reacionário dos argumentos utilizados para justificar a exclusão dos estudantes e dos movimentos sociais. Resumidamente, os argumentos são dois: 1) os operários constituem a classe revolucionária, por isso, devem ser a direção do movimento dos trabalhadores e 2) os movimentos estudantil e sociais são “policlassistas”, ou seja, também são formados por frações burguesas.
O primeiro argumento deriva de uma visão idealista que, como tal, não tem nenhum amparo na realidade e na história das revoluções da classe trabalhadora. Em todas as revoluções desde a Comuna de Paris de 1871, passando pelas revoluções mexicana, de 1910, e russa, de 1917, chegando até as revoluções chinesa (1949) e cubana (1959), a vitória dos trabalhadores foi determinada pela participação do conjunto das frações do proletariado, especialmente do campesinato.
Mesmo hoje, a recente história da América Latina nos mostra que as principais lutas foram encampadas e lideradas por diversas frações do proletariado: 1) no Brasil, na década de 1990, os camponeses, sob a liderança do MST, constituíram a principal oposição ao neoliberalismo de FHC; 2) na Argentina em 2000 estavam na vanguarda das lutas os trabalhadores desempregados e movimentos populares; 3) na Bolívia desde 2003 o movimento indígena e camponês lideraram as revoltas populares.
Afirmar que o movimento sindical é o mais organizado da classe trabalhadora é desconhecer a atual estrutura do sindicalismo brasileiro. Até porque a organização não é um em fim em si. Em termos de auto-organização dos trabalhadores a grande maioria dos sindicatos é frágil. Quem organiza os sindicatos no Brasil é o Estado, que concede a carta sindical e o imposto sindical.
Segundo a estrutura sindical brasileira, de inspiração fascista, a representação sindical e o financiamento dos sindicatos são outorgados pelo Estado, por isso um sindicato não precisa de filiados para ser reconhecido como tal e receber o imposto sindical. Isso faz com que facilmente os sindicatos se tornem representantes do Estado e do patronato e não dos trabalhadores. Tal organização é antes um elemento a ser combatido do que a ser exaltado.
E a estrutura do sindicalismo de Estado se ampliou no ano passado com a Lei 11.648/2008, que incorporou as centrais sindicais à estrutura sindical oficial. Assim, as centrais são igualmente tuteladas pelo Estado e financiadas pelo imposto sindical. A conversão das centrais em “centrais oficialistas” reforça a burocratização das entidades sindicais. E infelizmente a CONLUTAS não encaminhou uma luta séria contra isso, mas se acomodou ao processo.
Portanto, a estrutura sindical tem um efeito desorganizador sobre o movimento dos trabalhadores, pois impõe a formação de sindicatos sem base (os chamados “sindicatos cartoriais”) e promove a tutela estatal sobre o conjunto das entidades sindicais. Os sindicatos ficam frequentemente à serviço da burguesia, não dos trabalhadores. A Estrutura sindical deve ser combatida na sua totalidade não em aspectos isolados. Desse modo, afirmar a necessidade de lutar contra a burocratização dos sindicatos mas buscar a adequação de uma central à estrutura oficial é proferir com discurso vazio.
Já o segundo argumento, acerca do caráter policlassista do movimento estudantil, nega a perspectiva classista para esse setor da classe trabalhadora. E negar isso é permitir o desenvolvimento de políticas de colaboração com a burguesia no seio do movimento.
Esse é argumento é extremamente pobre. É óbvio que a condição de estudante não se confunde com a condição de classe. Mas a grande massa dos estudantes brasileiros é de trabalhadores. E se faz necessário construir um movimento estudantil classista e combativo.
Da mesma forma é falso o argumento de que os movimentos sociais de corte ético-racial e de gênero são “policlassistas”. O racismo e o machismo são instrumentos da dominação burguesa, utilizados para superexplorar esses segmentos dos trabalhadores. As mulheres e negros do Brasil são submetidos às piores condições de trabalho e recebem os menores salários. Os indígenas são submetidos a condições desumanas.
A luta contra a homofobia e a pela extensão dos direitos civis aos homossexuais também tem que ter um caráter de classe. Essa não é uma questão individual, mas uma questão social que tem que ser respondida pela luta da classe trabalhadora. Somente a ação política do conjunto do proletariado pode superar o racismo e o machismo.
A condição objetiva de classe desses setores é proletária. É a ausência de uma política classista e socialista para organizá-los e integrá-los na luta de classes que os deixa à mercê de políticas e ideologias da burguesia e de Estado. Somente uma perspectiva metafísica de segunda categoria pode desconsiderar as condições econômicas materiais e substituí-las por uma vaga disputa de ideias e projetos individuais como critérios centrais na definição do caráter de classe.
Firmar que os movimentos estudantil e sociais são policlassitas e, portanto, não podem estar na mesma central é reproduzir a fragmentação imposta pela burguesia. É importante lembrar existem certas ocupações e sindicatos que agrupam “profissões” que podem ter burgueses em seu ofício (como é caso de profissões liberais e serviços públicos), além da existência de sindicatos de patrões (industriais, latifundiários, banqueiros, etc). Nem por isso se afirma que o movimento sindical é policlassista.
Por último, destacamos o aspecto burocratizante da política de fusão da CONLUTAS com a Intersindical, processo que se assemelha com a degeneração da CUT nos anos de 1980 que se consolida na segunda metade da década de 1990. Congresso após congresso, a representação da base foi diminuindo na CUT e, finalmente, no IV CONCUT a Corrente Sindical Classista, do PCdoB, entrou na central e formou o bloco hegemônico com a Articulação Sindical/PT que aprovou as teses do “sindicalismo propositivo”, ou seja, de colaboração com o Estado e a burguesia.
E é exatamente esse processo que observamos no interior da CONLUTAS: a proposta de excluir importantes setores da classe trabalhadora da “nova central” e a proposta de reduzir proporcionalmente o número de delegados de base no “congresso de fusão”, marcado para junho desde ano - No 1º CONAT, realizado em Betim/MG no ano de 2008, a proporção para a tiragem de delegados era 500 na base para 1 delegado, com fração de 250, agora a proposta é 1.000 na base para 1 delegado, com fração de 500. Isso implica em uma drástica redução da participação dos delegados.
A história só se repete como farsa ou tragédia. Estamos diante na iminência de um erro histórico, cometido por setores dirigentes da CONLUTAS. Estes foram incapazes de capitalizar o movimento de oposição e ruptura no interior da classe trabalhadora. A guinada representada por essas táticas é a negação dos princípios e programa da CONLUTAS fixados no I CONAT.

3.3 Uma central de novo tipo e sua política de construção.

A CONLUTAS representou um ensaio na construção de uma central de classe. Agora nossa principal tarefa é garantir que nossa central se torne de fato uma central sindical e popular, que reúna e organize o conjunto da classe trabalhadora.
Em uma central de classe, que tem como um de seus pilares a democracia operária, não pode estabelecer pesos diferenciados aos setores que fazem parte da entidade. Somos contrários à deliberação do 1° CONCLAT/2008 que estabeleceu um percentual de 10% para a participação dos estudantes na CONLUTAS.
Infelizmente o processo de burocratização e mudança do caráter da “nova central” está avançando, pois a proposta do setor majoritário é que na “nova central” o movimento estudantil, movimento negro, movimento de mulheres e contra a homofobia tenham uma participação simbólica, com um percentual de 5%. Esse tipo de formulação fere a natureza sindical e popular da nossa central.Quer dar a aristocracia operária a maioria compulsória na direção da entidade.

Do mesmo modo, somos contrários à construção de uma central sindical que permita a filiação do movimento estudantil e popular. Porque essa formulação muda o caráter sindical e popular e estabelece a formulação de uma central sindical que concede a filiação aos demais setores da classe trabalhadora. Na prática, essa formulação não passa de um “favor” que os sindicatos concedem aos estudantes e aos movimentos populares e sociais.
Defender uma central de classe significa defender uma entidade que reúne em seu interior as diferentes organizações da classe trabalhadora: o movimento operário, o movimento sindical urbano (comercio e serviços); o movimento camponês e de trabalhadores rurais; o movimento estudantil; movimento de desempregados e informais, o movimento negro e indígena, os movimentos de gênero e contra a homofobia. Desta maneira, será uma organização ampla e representativa das lutas.
A natureza de uma Central de Classe possibilita romper com o sindicalismo social-democrata e corporativista, que reproduz a fragmentação da classe trabalhadora imposta pelo capital, ao mesmo tempo, garante o combate a estrutura de sindicalismo de Estado. Esse é o caminho para a construção de um amplo movimento classista e combativo dos trabalhadores.
Nós trabalhadores, estamos vendo numa conjuntura de ofensiva burguesa, a partir das políticas neoliberais e da reestruturação produtiva. A superexploração e a precarização atinge parcelas cada vez maiores da classe trabalhadora, aumentando a nossa fragmentação e ampliando os lucros da burguesia. Nessa conjuntura somente uma Central de Classe é capaz de dar respostas às necessidades do conjunto dos trabalhadores.
A Central de Classe deve estar estruturada na base da democracia interna e do federalismo (coordenação da autonomia local com as funções diretivas das instâncias centrais), preservando as decisões de “baixo para cima”. Esta democracia proletária tem um objetivo de mobilizar; a democracia visa garantir a entrada das massas proletárias na arena da ação política. Além da democracia interna, a Ação Direta (greves, mobilizações e etc) deve ser o meio central da luta, e não as negociações nos espaços da burguesia (justiça, parlamentos, câmaras, prefeituras e governos).
O mais importante é que tal tipo de organização dá uma resposta às características do capitalismo contemporâneo. Ele neutraliza as táticas burguesas de esfacelamento e fragmentação. Ele contorna também os aspectos desorganizadores do sindicalismo de Estado e do sindicalismo social-reformista. E é um tipo de organização que esteja adequada as necessidades de uma efetiva luta pelo socialismo.


Assinam essa tese:

Everardo Cantarino – SINDSCOPE.
Romulo Castro – SINDSCOPE.
Selmo Nascimento – SINDSCOPE.
Sergio Muniz – Oposição Petroleira/GLP.
Augusto Rosa – Base do SEPE.
Caroline Bordalo – Base do SEPE.
Carla Bianca – Base do SEPE.
João Carlos Ramos – Base do Sinttel-RJ.
Andrey Cordeiro Ferreira – Base do ANDES.